FEIRA DA PRAÇA

Estudantes da FURG-SLS realizam pesquisa para entender perfil dos feirantes lourencianos

Percebeu-se o aumento de oito bancas nos últimos cinco anos e o protagonismo feminino no espaço

Fundada há cerca de 45 anos, a Feira Livre de São Lourenço do Sul acontece regularmente todas as quartas-feiras e sábados na Praça Central Dedê Serpa. O espaço, que se firma como um importante ponto de comercialização de produtos oriundos da agricultura familiar, possibilita encontros entre feirantes e consumidores, fomenta a ocupação do espaço público e se institui como fonte de renda para diversas famílias, ao mesmo tempo que garante a segurança alimentar no município a partir de muitas opções ofertadas.

Para compreender um pouco mais quem são e como se organizam os feirantes, estudantes da FURG São Lourenço do Sul (FURG-SLS), dos cursos de Agroecologia e Gestão de Cooperativas, realizaram uma pesquisa junto às 22 bancas que compõem a feira. Os dados foram coletados no dia 7 de janeiro e apresentados na tarde e noite de 25 de janeiro, durante o encerramento da disciplina de Política e Desenvolvimento Territorial, ministrada pela professora e vice-diretora do campus São Lourenço do Sul, Carmem Pacheco Porto.

As informações obtidas foram comparadas pelos estudantes com a primeira edição da pesquisa - que ocorreu entre 2016-2017, desenvolvida por Carmem e Darwin Aranda, discente de Agroecologia à época - visando uma atualização do que se modificou de lá para cá e, deste modo, contribuir para elaboração de uma base de dados sólida para a comunidade.


Resultados obtidos
Para realização do estudo, foram montados dois questionários, um direcionado a todos os feirantes, aplicado pela turma de Agroecologia, e outro específico para os produtores agroecológicos, aplicado pela turma de Gestão de Cooperativas. O intuito principal de ambos era compreender a permanência dos agricultores e comerciantes na feira livre, sua organização enquanto feirantes, satisfações e descontentamentos, assim como suas razões para atuarem na feira.

Constatou-se que a maior parte dos produtos ofertados é proveniente da própria unidade de produção familiar, sendo que, eventualmente, também são comercializados produtos de vizinhos, amigos ou familiares de agricultores. Os principais gêneros oferecidos são verduras, frutas, ovos, queijo, banha, carne de porco e frango, geleias, pães, bolachas. Algumas bancas também comercializam flores e suculentas.

Enquanto 82% dos entrevistados se considera satisfeito com a renda gerada na feira, trabalhadores de cinco bancas contaram que precisam atuar em outras atividades fora a agricultura para a complementar mensalmente os recursos da família, pois o valor obtido não é suficiente.

Em comparação com a primeira edição da pesquisa, realizada cinco anos atrás, os estudantes notaram o aumento de oito bancas, principalmente nos anos de 2021 e 2022. Verificou-se que entre as 22 bancas atualmente em exercício, apenas duas não se consideram parte da agricultura familiar; sendo que seis se definem como agroecológicas, cinco de sistema ecológico e o restante de sistema convencional, mas tentam reduzir a quantidade de insumos. Também constatou-se que apenas uma banca não conta com o auxílio da família para comercialização dos produtos na feira.

Entre as principais motivações para a permanência dos feirantes no espaço estão a tradição familiar; a liberdade econômica, uma vez que os produtos são vendidos diretamente aos consumidores, sem a necessidade de atravessadores; e a necessidade financeira, com várias menções à crise gerada pela pandemia de Covid-19.

Especificamente no caso das seis bancas agroecológicas, todos os feirantes envolvidos citaram que consideram como o principal benefício da feira a possibilidade de oferecer produtos livres de agrotóxicos, considerados mais saudáveis, e relatam sua satisfação nas vendas direta ao público, criando laços entre agricultor e consumidor. Percebeu-se também, entre os agroecológicos, que a maioria é filiado a alguma cooperativa, associação ou sindicato, e demonstram interesse de integrarem outras iniciativas.

Das 22 bancas, oito comercializam seus produtos apenas na feira, e as demais possuem outros meios para escoamento da produção, como a atuação em feiras de cidades próximas, atendimento a consumidores diretamente em suas propriedades e fornecimento de alimentos frescos a pequenos mercados.

São cerca de 45 trabalhadores envolvidos na comercialização na feira, com idades que variam de 15 até 65 anos, sendo que a grande maioria tem mais 45 anos. Entre os feirantes, 25 são mulheres e 20 homens, fato bastante destacado pelos estudantes durante a apresentação, uma vez que o trabalho feminino em áreas rurais por muitas décadas foi invisibilizado.

Entre os desafios elencados, estão a falta de valorização dos produtos, além do baixo incentivo do poder público. A maioria dos feirantes comenta que gostaria que existisse uma estrutura melhor na feira - capaz de protegê-los de chuvas e ventos, com sanitários apropriados e acessíveis - para que consigam seguir na atividade. Os que produzem também relatam que almejam contar com mais assistência técnica para o bom andamento das culturas e maior suporte público em casos de eventos climáticos que prejudicam as plantações, como chuvas intensas, frio extremo ou períodos de estiagem.

Realização da pesquisa

Alana Ferreira, Julia Lolis e Helen Heller, estudantes de Agroecologia, afirmam que gostaram muito da aproximação com os agricultores e agricultoras, e que sentiram-se motivadas pela realização da pesquisa. Alana conta que ainda não havia tido nenhuma experiência parecida como entrevistar alguém, e valorizou adquirir essa experiência. “A feira é um lugar que eu frequento. Então ter mais informações sobre os agricultores me ajudou muito, tanto pessoal como academicamente, porque foram dados que são muito importantes de serem levantados e eu também vi que eles se sentiram satisfeitos e acolhidos com a nossa pesquisa”, destaca.

Julia lembra que conversar com os feirantes proporcionou uma maior reflexão dos estudantes acerca das dificuldades enfrentadas por quem produz. “A gente conhece o agricultor, sabe da dificuldade dele e entende que não é fácil para você produzir de uma forma ecológica, tem que ter todo um suporte. Foi muito importante a gente fazer essa pesquisa para eles se sentirem visibilizados, ainda mais que eles falaram sobre o público ter diminuído”, ressalta. Já Helen entende que a ação aproxima a FURG dos agricultores do território. “É uma forma de mostrar serviço, que estamos aqui para ajudar e não só para utilizar o que São Lourenço oferece”, explica.

Os acadêmicos de Gestão de Cooperativas, Taís Reisderfer e Manoel Igansi, também gostaram de realizar a atividade. Taís ressalta o acolhimento promovido pelos feirantes aos estudantes durante a entrevista. “Eles estavam trabalhando, mas demostraram satisfação com o trabalho realizado pela FURG- SLS”. Igualmente, Manoel destaca a importância da pesquisa junto aos feirantes e vislumbra a ação como uma oportunidade para trabalhos futuros.

A professora Carmem conta que os agricultores estavam felizes com a presença dos estudantes buscando informações para publicizá-las. Segundo ela, essa é uma forma de valorizar e dar visibilidade para feira. A docente conta que agora a ideia é verificar aspectos que podem ser complementados em novas edições da pesquisa. "É uma forma de reforçar a feira no município. Eles se sentem fortalecidos com as nossas pesquisas, com o nosso trabalho" diz Carmem, destacando que a aproximação com a feira é importante para o fortalecimento da identidade local do município. “É um lugar onde a gente se identifica com o território, porque no momento em que buscamos um alimento que a gente sabe a origem, também estamos reforçando a alimentação que é proveniente do próprio território. Isso cria e mantêm a identidade do lugar".

 

 

 

Gallery

Percebeu-se o aumento de oito bancas nos últimos cinco anos e o protagonismo feminino no espaço

Foto: Divulgação