MANIFESTAÇÃO

Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas emite nota sobre a performance artística realizada no ILA

Comunicado foi emitido pelo Comitê de Poéticas Artísticas nesta quarta-feira, 20

Em nota, o Comitê de Poéticas Artísticas (CPA), vinculado à Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas (Anpa), manifestou apoio e solidariedade aos estudantes envolvidos na performance artística realizada no Instituto de Letras e Artes (ILA), na sexta-feira, 8. Em trecho do comunicado, grupo pontua:

“Nos últimos dias, uma performance realizada no Átrio - um dos espaços expositivos do Núcleo de Exposições do Prédio das Artes da FURG - desenvolveu-se uma das ações de recepção aos/às estudantes do curso de Artes Visuais, junto a uma série de outras ações. Legitimada pelo campo artístico e reconhecida como uma modalidade das Artes Visuais, a performance do Coletivo @animaliacoletivo desenvolveu-se a partir de cenas de nudez, sem qualquer conotação erótica e/ou sexual.

À luz dos fatos ocorridos na Universidade Federal do Rio Grande – FURG durante a programação da Acolhida Cidadã, organizada pelo Diretório Acadêmico do Curso de Artes Visuais, a ANPAP e o Comitê de Poéticas Artísticas (CPA), se solidarizam às/aos estudantes envolvidos no episódio, bem como à Universidade Federal do Rio Grande - FURG, que tem sido acusada equivocadamente por meios de comunicação adversos, sem a utilização de princípios científicos do campo da arte, os quais seriam capazes de apresentar a performance e a nudez com propriedade, por tratarem-se do campo específico de conhecimento das artes visuais.

O Comitê de Poéticas Artísticas não apoia qualquer censura às artes performáticas que contenham nudez, ou inadequadas avaliações que não sejam feitas por especialistas e pesquisadores de arte”.

Nota na íntegra

"Desde os anos 60, as Artes Visuais expandem-se à pluralidade de práticas, promovendo desmaterializaçoes e a ampliação de discursos possíveis, com conceitos e formas de operacionalização diversas, quebrando paradigmas e trazendo perspectivas novas à produção artística e ao pensamento humano. Entre esses novos caminhos, a performance evidencia-se como uma prática que toma o corpo como suporte para a criação, ampliando suas potencialidades enquanto matéria artística e estabelecendo rupturas, ou aproximações entre as separações entre arte e vida.

Suas origens remetem ao grupo Fluxus, nos anos 1960-70, que potencializam o corpo como espaço de acontecimento e questionamentos, lançando reflexões sobre essa desmaterialização da arte, ampliando os espaços da arte para além de suportes e linguagens tradicionais. A arte afasta-se, portanto, de suas limitações tradicionais, ampliando-se para outros espaços, tais como o corpo, a cidade e a paisagem.

Sabe-se que, neste ínterim, a nudez acompanha toda a narrativa histórica da arte, seja pela representação do corpo nu, dentro da pintura, tantos no exemplo de anjos nus, da Capela Sistina, Itália, de autoria do pintor Michelangelo, como nos dados museográficos que compravam a representação catalogada de corpos nus, totalizando mais de 60% dos acervos dos museus brasileiros e no mundo. Outrossim, há representações e expressividades de corpos nus na arte indígena e de matrizes africanas, revelando o compromisso do corpo como suporte para as linguagens. Em outras palavras, a nudez na arte apresenta possibilidades de diálogo com a sociedade, representando-a em seus mais restritos ou amplos sentidos. Toda e qualquer conotação que, por ventura escapar daquilo que intenciona o artista, ou aquilo que se propõe a sua arte, estará ao cargo da forma como recebe e quem a vê, ou seja, o seu espectador, sendo este capaz de perceber, mas jamais de julgar, censurar, ou categorizar com moralidade corpos nus, senao nao seria arte.

Um exemplo de repercussão internacional é o caso da censura que sofreu a Exposição QueerMuseu, de curadoria de Gaudêncio Fidelis, realizada no Santander Cultural, em Porto Alegre, no ano de 2017. A exposição sofreu ataques e foi fechada por intolerância, sofreu defesa constitucional e, desde então, ficou o marco de que não se pode mais permitir censura em exposições de arte.

Nos últimos dias, uma performance realizada no Átrio - um dos espaços expositivos do Núcleo de Exposições do Prédio das Artes da FURG, desenvolveu-se uma das ações de recepção aos/às estudantes do curso, junto a uma série de outras ações. Legitimada pelo campo artístico e reconhecida como uma modalidade das Artes Visuais, a performance desenvolveu-se a partir de cenas de nudez, sem qualquer conotação erótica e/ou sexual. À luz dos fatos ocorridos na Universidade Federal de Rio Grande (RS) durante a programação da Acolhida Cidadã, organizada pelo Diretório Acadêmico do Curso de Artes Visuais, a ANPAP e o Comitê de Poéticas Artísticas/CPA, se solidarizam às/aos estudantes envolvidos no episódio, bem como à Universidade Federal do Rio Grande/FURG, que tem sido acusada equivocadamente por meios de comunicação adversos, sem a utilização de princípios científicos do campo da arte, os quais seriam capazes de apresentar a performance e a nudez com propriedade, por tratarem-se do campo específico de conhecimento das artes visuais. O Comitê de Poéticas Artísticas/CPA, não apoia qualquer censura às artes performáticas que contenham nudez, ou inadequadas avaliações que não sejam feitas por especialistas e pesquisadores de arte".

 

Comitê de Poéticas Artísticas/CPA

Janice Martins Appel, Luisa Paraguai e Sandro Ouriques Cardoso