“As histórias são importantes. Muitas histórias são importantes”, disse Chimamanda Adichie, na conferência O perigo da história única, no TEDGlobal 2009. Inspirada pela escritora nigeriana e em sintonia com o tema escolhido pela 45ª Feira do Livro da FURG – histórias de mulheres, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da universidade apresenta o projeto Elas na feira, iniciativa que mostra relatos de (sobre)vivências femininas. Com uma câmera fotográfica e um gravador, captamos universos e o estar no mundo feminino pelas vozes de mulheres que passaram pelo evento. O resultado é esta série de perfis singulares, que pode ser acompanhada aqui.
Maria das Graças – 58 anos
Sou dona de casa. Trabalhei durante 17 anos, até o ano passado, como merendeira em uma escola. Eu gosto de interagir com as pessoas, gosto sempre de conversar, de tratar bem. Eu acho tão ruim quando a gente chega num lugar e não é bem tratada, então eu sempre procuro tratar bem, pra eu receber isso também.
Eu sinto falta do convívio das crianças, dos pais, a gente cria amizades para o resto da vida. Eu parei de trabalhar e agora estou estudando. Porque meus filhos se formaram, foram embora e ficou só eu e meu marido. Ele trabalha e agora como eu não tô trabalhando eu decidi estudar.
“sempre tive paixão por estudar”
Eu tive que começar a trabalhar muito cedo, pra poder ajudar meus pais e meus irmãos, porque éramos muito pobres. Eu tive que trabalhar e não pude estudar e eu sempre gostei, sempre tive paixão por estudar. Na época eu consegui fazer o fundamental, mas o médio eu não alcancei. Agora eu estou fazendo o ensino médio, quero fazer uma faculdade, não quero ficar parada esperando os dias passarem. Aí eu comecei a fazer o EJA ano passado e agora passei para a terceira etapa. Esse ano eu termino e se Deus quiser faço o Enem. Eu quero fazer gastronomia, mas é só em Pelotas. Já me disseram que eu não vou aguentar ir todos os dias, mas eu vou tentar. Se eu não conseguir eu tento aqui em Rio Grande. Eu gosto e me dou bem em Português, então talvez eu tente algo na área de línguas, Português-Espanhol, mas a primeira opção é gastronomia.
“adoro cozinha”
Eu gosto de cozinhar, adoro cozinha. Eu sempre cozinhei. Me criei em uma casa de família, pessoas muito legais que me adotaram, porque eu fui bem novinha pra lá, e antigamente a gente morava nas casas. Até hoje meus filhos chamam eles de avós, porque são pessoas que são muito ligadas a nós. Eu sou da Ilha dos Marinheiros, nasci lá e fiquei até os 15 anos, quando eu vim pra Rio Grande pra trabalhar nessa casa. Eu fui pra lá pra ser companhia da filha mais nova deles, porque eles viajavam muito. Eles iam viajar e a gente inventava coisas pra fazer, íamos pra cozinha e essas coisas. Aí descobriram que eu gostava de cozinhar e que eu cozinhava bem, e começaram a me entregar a cozinha. Passei a ser a cozinheira da casa. Quando eu casei saí de lá, depois voltei e fiquei mais uns cinco anos, depois tive meus filhos e acabei me dedicando a eles.
“porque a gente não pode parar, né?”
Quando eles cresceram um pouco e eu vi que eles não precisavam mais tanto de mim, eu vi que precisava arrumar alguma coisa pra fazer. Na escola que meu filho estudava, eles estavam precisando de pessoas pra cantina e me ofereceram, porque eu era aquela pessoa que tava sempre envolvida sabe? Tinha festa junina, tinha festa de fim de ano, acantonamento – que é quando as crianças dormiam na escola – e tinha que fazer janta, eu tava sempre ajudando. Aí elas me convidaram pra ficar na cantina, aí eu pensei “ah, vou fazer uma experiência, se der certo, deu”. Eu fiz e o pessoal adorou que eu inventava coisas, lanches que as crianças gostavam, aí fiquei 17 anos lá.
Meus filhos se formaram e agora tá só eu e o meu marido, aí agora, eu voltando a estudar, eu vou fazer alguma coisa, porque a gente não pode parar, né? Aí as pessoas me dizem assim: a gente faz a faculdade pra ter uma profissão. E eu respondo que na minha idade eu não vou esperar ter numa profissão um sucesso. É uma coisa minha, meio particular, assim, pra eu preencher meu tempo, me envolver com alguma coisa. Não que eu não quero fazer um mestrado, um doutorado, pra poder dar aula. Não, é uma realização minha e eu acho que vou conseguir.
Foto: Jaira Duarte
Conheça as histórias anteriores:
Elas na feira - histórias de mulheres: Maria Alvina Madruga Goulart
Elas na feira - histórias de mulheres: Débora Amaral
Elas na feira - histórias de mulheres: Amanda Dias Lima Lamin
Elas na feira - histórias de mulheres: Maria Carpi
Elas na feira - histórias de mulheres: Aline Mendes Lima
Elas na feira - histórias de mulheres: Raquel Rodrigues Farias
Elas na feira - histórias de mulheres: Marcia Martins
Ela na feira - histórias de mulheres: Daniela Delias
Elas na feira - histórias de mulheres: Lívia Acosta Silveira
Elas na feira - histórias de mulheres: Cleuza Maria Sobral Dias
Elas na feira - histórias de mulheres: Rosélia Falcão
Elas na feira - histórias de mulheres: Ligia Furlanetto
Elas na feira - histórias de mulheres: Seiko Nomiyama
Elas na feira - histórias de mulheres: Direma Cardona
Elas na feira - histórias de mulheres: Juliana Andrade da Silveira
Elas na feira - histórias de mulheres: Maria de Lourdes Lose
Elas na feira - histórias de mulheres: Carla Amorim das Neves Gonçalves
Elas na feira - histórias de mulheres: Aimée Bolaños
Elas na feira - histórias de mulheres: Bruna Aliandro
Elas na feira - histórias de mulheres: Alice Garcia de Araújo
Elas na feira - histórias de mulheres: Lívia
Elas na feira - histórias de mulheres: Lucia Nobre
Elas na feira - histórias de mulheres: Carla Rosangela Trindade e Silva
Elas na feira - histórias de mulheres: Francine Camargo
Elas na feira - histórias de mulheres: Sofia
Elas na feira - histórias de mulheres: Isadora
Elas na feira - histórias de mulheres: Lize Domingues
Elas na feira - histórias de mulheres: Milena Machado de Araújo
Elas na feira - histórias de mulheres: Desirée Sales
Elas na feira - histórias de mulheres: Eliane Azevedo
Elas na feira - histórias de mulheres: Ingrid Gonçalves
Elas na feira - histórias de mulheres: Kelley Baptista Duarte
Elas na feira - histórias de mulheres: Marisa Marco dos Santos