Seminário Corpos, Gêneros e Sexualidades discute a sexualidade na escola

Em torno de quinhentos profissionais, estudantes e gestores em educação da região Sul do Estado participaram nesta sexta-feira, 12, do Seminário Corpos, Gêneros e Sexualidades: tecendo diálogos na educação, realizado pelo Grupo de Pesquisa Sexualidade e Escola (Gese), Centro de Educação Ambiental, Ciências e Matemática (Ceamecin) e Instituto de Educação (IE) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) com apoio das Pró-reitorias de Graduação e de Extensão e Cultura.

A atividade encerrou a 3ª edição de curso de formação de professores do Projeto Sexualidade e Escola: discutindo a diversidade sexual, o enfrentamento ao sexismo e à homofobia, financiado pelo Ministério da Educação (MEC), por meio da Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad). O projeto atingiu 500 profissionais da rede pública de educação básica nas cidades de Rio Grande, São José do Norte, São Lourenço do Sul, Santo Antônio da Patrulha, Santa Vitória do Palmar e Chuí.

A abertura do evento, durante a manhã, contou com as presenças da Pró-reitora de Extensão e Cultura Darlene Torrada Pereira, representando o Reitor da FURG João Carlos Brahm Cousin; da Pró-reitora de Graduação em exercício Leila Mara Barbosa Costa Valle; da diretora do IE Silvana Zasso; e das secretárias municipais de educação de Santo Antônio da Patrulha Josélia Lorence Fraga, de São José do Norte Izabel Cristina Chaves e de São Lourenço do Sul, Carla Adriane Lübke; além da coordenadora do projeto e do Gese Paula Regina Costa Ribeiro. Também estavam presentes, representando as secretarias municipais do Chuí e de Rio Grande, respectivamente, as professoras Mari Armélia Cotta de Melo e Carla Pedra.

Durante sua fala, a coordenadora do projeto e do Gese Paula Regina Costa Ribeiro fez o pré-lançamento de dois livros produzidos pelo Gese: as obras Sexualidade: papo de criança na escola? Sim!!!, organizada por Raquel Pereira Quadrado e Joanalira Corpes Magalhães, e TEENcontrei, organizada por Paula Regina Costa Ribeiro e Juliana Lapa Rizza, com ilustrações e diagramação de Alisson Afonso e Anderson Nunes Mendonça, ambos acadêmicos de Artes Visuais da FURG.

Após uma fase de testes, serão publicados 15 mil exemplares de cada livro, com financiamento do MEC/Secad, para distribuição para crianças e adolescentes das escolas dos municípios através dos professores que participaram do curso de formação.

Em nome dos secretários presentes e representados o evento, a Secretária de Educação de São Lourenço do Sul Carla Adriane Lübke destacou a importância das ações do Gese/FURG para a discussão da sexualidade na escola. As pessoas silenciavam certos discursos na escola. A grade curricular engessada silenciava determinados conteúdos por preconceito. É possível mudar e percebemos o avanço com o projeto, que chega à terceira edição. Nós mudamos. Construímos conhecimento e afeto. Os participantes do curso se comprometem com a proposta, pois queremos tecer uma sociedade que seja capaz de acolher, de incluir, afirmou.

Em alusão ao tema do evento, a Pró-reitora de Extensão e Cultura Darlene Torrada Pereira reforçou que a sociedade atual possibilita tecer a construção de um novo conhecimento e completou: um conhecimento carregado de compromisso de uma Universidade que está presente na região. Temos o trabalho consolidado do Gese de construção efetiva de transformação social e estamos iniciando um novo projeto de formação de professores em seis cursos que iniciam no próximo ano. Os cursos serão desenvolvidos pela FURG para professores das regiões Sul e Centro-Sul, através do Programa Institucional de Formação Continuada de Professores de Educação Básica/Plataforma Freire, apresentado no dia 17 de setembro no Cidec-Sul.

Depois da solenidade de abertura, as professoras doutoras Nádia Geisa Souza (UFRGS), Paula Sibilia (UFF) e Silvana Goellner (UFRGS), abordaram, respectivamente, as temáticas Discutindo práticas escolares implicadas na construção dos corpos, Pedagogias midiáticas do corpo feminino: da repressão sexual à moralização da imagem e A cultura fitness e a estética do comedimento, na primeira mesa redonda do evento. À tarde, o Seminário Corpos, Gêneros e Sexualidades segue com mesa-redonda e sessões de pôsteres.

Relato da professora trans

À tarde, a programação seguiu com sessões de pôsteres, às 14h, sobre os trabalhos desenvolvidos por professores e estudantes nas escolas da região Sul envolvendo a temática da sexualidade. Às 15h, iniciou a mesa redonda, com o prof. dr. Fernando Seffner (UFRGS) sobre o tema Educação nem sempre rima com inclusão: casos e acasos da diversidade na escola, o dr. Rogério Junqueira sobre Educação e Diversidade Sexual: o enfrentamento à homofobia como fator de inclusão e de incremento da qualidade da educação e a prof. esp. Marina Reidel com Diga a não à homofobia na escola: relato da professora trans.

A professora Marina, graduada em Artes Visuais e especialista em Psicopedagogia, atua na rede estadual de ensino em Porto Alegre e no polo da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs/Fundarte) em Montenegro. Ela assumiu publicamente a transsexualidade aos 30 anos, quando saiu de Montenegro para residir na região metropolitana de Porto Alegre. A mudança veio depois de fixar residência em Canoas. Na época, já atuava em sala de aula, na Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio de Janeiro, na Cidade Baixa em Porto Alegre, onde leciona até hoje. Saí em junho e voltei em julho transformada. Dali em diante assumi a postura da professora Marina, a professora trans, conta.

Sobre o receio anterior, diz que a receptividade foi melhor do que esperava. Com os alunos foi super tranqüilo, eles tinham muita curiosidade. A direção no início ficou preocupada com essa transformação toda. Mas diante da lei estadual de Direitos Humanos, nunca ninguém, nenhum pai, nenhum colega, questionou nada. Hoje, além do ensino de artes, atua na disciplina de Ética e Cidadania na rede estadual.

Para o evento na FURG, ela trouxe o resultado das ações desenvolvidas com os alunos de 5ª a 8ª séries na escola Rio de Janeiro, em que discute temas como sexualidade, preconceito e violência. As ações renderam à professora o prêmio Educando para Diversidade Sexual, idealizado pela Aliança Global para Educação LGBT (GALE, em inglês). O Prêmio tem a finalidade de reconhecer, valorizar e incentivar a promoção do respeito à diversidade sexual no ambiente educacional no Brasil. A solenidade de premiação ocorre em 23 de novembro, às 16h30, na Sala das Comissões da Câmara dos Deputados, em Brasília.

Pôsteres apresentaram projetos abordando a sexualidade

Na parte da tarde desta sexta-feira (12) foram apresentados pôsteres de trabalhos que diziam respeito aos temas abordados no Seminário Corpos, Gêneros e Sexualidades. Na ala norte do hall de entrada do Cidec-sul, puderam ser vistos os trabalhos que estão ou foram desenvolvidos nas cidades de Rio Grande, São José do Norte, São Lourenço do Sul, Santo Antônio da Patrulha, Santa Vitória do Palmar e Chuí.

Um deles é o da professora Luciana Pedroso de Oliveira Bühler, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Ângelo Tedesco, de Santo Antonio da Patrulha. O título é Sexualidade e Escola? tendo como público-alvo os pais ou responsáveis dos alunos do 2º ano.

O objetivo foi o de sensibilizar pais ou responsáveis sobre a importância de discutir a sexualidade com as crianças, envolver os pais na educação sexual de sus filhos e debater as questões de gênero na sociedade. A professora pôde testemunhar a falta de informação e educação por parte dos pais. A primeira pergunta sobre o que é educação sexual ficou em branco. A grande maioria dos pais entende que sexualidade é apenas sexo, assinalou Luciana.

A persistência no projeto deu resultado, pois aos poucos os responsáveis pelos alunos começaram a superar os tabus e a compreender que os assuntos de sexualidade têm de ser tratados em casa. A escola deve oferecer o complemento e o esclarecimento necessário do assunto. Outros assuntos também referentes ao tema do Seminário apareceram nos pôsteres expostos no Cidec-Sul.

 

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Professora Marina Reidel relatou experiências em sala de aula em Porto Alegre

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