Pelo projeto, será desenvolvida toda a cadeia produtiva da Anchoíta, um recurso pesqueiro pouco explorado no Brasil
Um recurso pesqueiro com grande potencialidade nutricional e econômica, mas ainda não devidamente explorado no Brasil tem a atenção de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande - FURG e, agora, também o apoio do governo federal, através do Ministério da Pesca e Aqüicultura MPA. Na manhã desta segunda-feira, o reitor João Carlos Brahm Cousin e o ministro substituto do MPA, Dirceu Lopes, assinaram convênio para desenvolvimento da cadeia produtiva da Anchoíta.
Pelo convênio, o MPA vai repassar R$ 2,2 milhões para desenvolvimento das pesquisas, que vão desde a avaliação do estoque pesqueiro do produto (trabalho sob orientação do prof. Lauro Madureira, do Instituto de Oceanografia) até o processamento e industrialização, através do prof. Milton Espírito Santo, da Escola de Química e Alimentos.
O ministro substituto do MPA, o rio-grandino Dirceu Lopes, disse que o Ministério da Pesca vai investir pesadamente nas parcerias com a FURG na valorização da Anchoíta, como único recurso pesqueiro amplamente disponível no Brasil. Com isto, disse ele, vamos gerar emprego e renda além de desenvolver novas tecnologias.
A parceria permitirá conhecer o tamanho do estoque de anchoíta; quanto custa a pesca da espécie e como deverá ser feita levando em conta os critérios de sustentabilidade e organização, inclusive levando também esta pesquisa para a Lagoa dos Patos. Teremos um diagnóstico permanente do setor pesqueiro no que refere a esta espécie, disse o secretário, ressaltando que o processo será um indutor da inclusão social, com participação ampla dos pescadores e suas famílias.
O reitor João Carlos Brahm Cousin vê neste projeto a possibilidade da FURG manter um trabalho integrado entre várias pesquisas que unem dados de Biologia, Oceanografia e Engenharia de Alimentos, entre outras, que mostrarão um retrato fiel dos estoques e da melhoria de vida da população envolvida com o pescado. A questão da tecnologia acessível também é essencial, conforme o reitor, que seja estudada e implantada. A repercussão econômica deste projeto é inegável e certamente teremos uma grande aceitação deste produto no mercado, disse Cousin.
Conforme o reitor é a primeira vez, em 40 anos da FURG, que a Universidade pode incidir com efetivo planejamento sobre a questão do estoque pesqueiro. Até então, havia muitos trabalhos de pesquisa, mas não parceria com os governos para implementar um planejamento específico. Ele saudou a criação do Ministério da Pesca e Aqüicultura e a criação do quadro específico do MPA.
Respondendo a solicitação feita durante o ato pelo professor Milton Espírito Santo, o reitor garantiu que a FURG construirá uma planta-piloto para o projeto Anchoíta, no Campus Carreiros da Universidade.
Para o prof. Milton, que saudou Jorge Pablo Castello como o primeiro pesquisador a defender a exploração comercial e nutricional da anchoíta, o convênio assinado traz expectativas de grande crescimento na pesquisa. Já foram feitos testes com a anchoíta enlatada e também macerada e salgada e a aceitação foi muito grande, inclusive para uso na merenda escolar. A anchoíta não tem volta. Ela não vai substituir a sardinha em lata, mas vai com certeza se desenvolver paralelamente, disse o professor.
PESCA DE ARRASTO Também na Reitoria da FURG foi assinado convênio entre o MPA e o Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental Nema, no valor de R$ 691 mil. O convênio prevê que a organização não governamental sediada no Cassino vai trabalhar com a caracterização, monitoramento e qualificação da pesca de arrasto no Rio Grande do Sul, na busca de novos petrechos de pesca, visando maior sustentabilidade das espécies e do setor pesqueiro em geral.
Dirceu Lopes lembrou que a suspensão da pesca de arrasto, que é predatória, não se faz por decreto, mas sim, através dos investimentos em conhecimento, educação ambiental dos pescadores e novas tecnologias. Pelo Nema, a diretora Carla Crivellaro e a coordenadora do projeto Daniela Monteiro, reafirmaram a satisfação nas parcerias com o MPA e a FURG e a garantia de que o Nema continuará qualificando seu trabalho para outros projetos que visem ao ordenamento da pesca e a sustentabilidade ambiental. A coordenadora ressaltou o envolvimento dos pescadores neste projeto, para serem repassadas informações de ambos os lados. Este projeto vai durar dois anos.
