Oceanografia da FURG analisa fenômeno de lama no Cassino

Instituto de Oceanografia encaminhou documento ao Ibama

A deposição de lama no Balneário Cassino, além de um fenômeno natural, pode também ter como causa a ação do homem sobre a natureza. É o que indica documento enviado pelo Instituto de Oceanografia-IO da Universidade Federal do Rio Grande-FURG a órgãos ambientais. O documento, datado desta quinta-feira, 16, apresenta o resultado de pesquisa finalizada em maio, que comparou a deposição de sedimentos desde a década de 80 com os verificados nos dias atuais.

O professor Lauro Júlio Calliari, que conduziu as pesquisas, explica que os estudos anteriores (desde 1999) sempre apontaram causas naturais para o fenômeno, mas o aumento de lama trazida pelas ondas para a beira da praia levou os pesquisadores a considerar outros fatores.

Segundo Calliari, em 2005, um experimento do IO em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) e o Naval Research Laboratory (NRL) da Marinha Norte-americana conseguiu determinar a taxa de sedimentação (quanto deposita em um ano) vinda do estuário e que se acumularia naturalmente na praia. O resultado apontou 0,5 metros de depósito de lama em 10 anos, ou seja, cinco centímetros por ano. O que não explicaria toda lama que chega na praia, ressalta Calliari.

O documento aponta que a ocorrência dos eventos, algumas vezes associados a dragagens recentes na Bacia do Porto Novo, mostra que o lançamento de volumes mesmo pequenos num espaço de tempo curto no estuário é um fator importante no aumento dos bolsões de lama em frente ao Cassino.

Ou seja, a pluma (sedimentos em suspensão) da descarga da Lagoa, sob a ação do vento Nordeste e em regime de vazante, leva o material que se deposita em frente ao Cassino na forma de bolsões de lama fluída. Tempestades mais frequentes a partir de abril (com ondas superiores a 3 metros de altura) movimentam essa lama fluída e a empurram para a praia. É fundamental que as dragagens tenham continuidade, mas devemos evitar a qualquer custo o lançamento de lama nas partes submersas do estuário, explica Calliari.

Além da preservação ambiental, a preocupação dos pesquisadores é com a segurança dos surfistas e a viabilidade do próximo veraneio no Cassino, diante da possibilidade de novas dragagens com volumes muito grandes tanto da Bacia do Porto Novo como de todo o Canal de Acesso ao Porto do Rio Grande.

Como a dragagem é inevitável e vital para a economia do município, a solução recomendada pelos pesquisadores seria simples. Quando dragagens menores são efetuadas na bacia do Porto o material poderia ser descartado na Ilha do Terrapleno de Leste ou em outras áreas propícias para isso. Em vez desses sedimentos serem lançados embaixo d´água no estuário, poderiam ser lançados em terra, uma solução de menor impacto ambiental e não muito dispendiosa, diz Calliari.

De acordo com o pesquisador, é fundamental também que se monitorem corretamente as operações de dragagem, principalmente a produção de lama fluída resultante do processo, no sentido de minimizar sua ocorrência, mesmo quando feita fora da Barra. Os produtos das dragagens maiores já estão sendo descartadas em maiores profundidades e, em princípio, se as dragagens foram bem feitas não apresentarão problemas, reforça o pesquisador.

O diretor do Instituto de Oceanografia, Carlos Alberto Garcia, deve encaminhar o documento à coordenadora geral de Transporte, Mineração e Obras Cívis do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-Ibama, Rosa Helena Zago Lopes, ao Escritório Regional do Ibama em Rio Grande, Fundação Estadual de Proteção Ambiental-Fepam, Prefeitura Municipal e Superintendência do Porto, entre outros.

 

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