Todo ser humano tem a necessidade de se teatralizar, se reinventar, se transformar. Com essa afirmação a atriz, jornalista e ouvidora do Ministério da Cultura, Ana Lúcia Pardo, explica o conceito de teatro do humano, ou seja, os personagens que cada pessoa assume em seu dia-a-dia no trabalho, em casa ou no lazer em busca da sobrevivência e da visibilidade. Em conversa informal com o público que prestigiou a abertura do 1ª Geribanda Movimento de Arte e Cultura na Universidade Federal do Rio Grande-FURG na noite de quarta-feira, 23, ela conta que a teatralidade, embora ligada ao teatro, ultrapassa o espaço da cena, do edifício teatral, o famoso palco da caixa preta. O palco hoje é apenas um dos lugares possíveis para o teatro.

Idealizadora do painel Teatro do Humano, que reúne atores e diretores brasileiros em ações de pesquisa e discussão e será transformado em livro com lançamento previsto para 2009, a atriz destaca que entre a hiperrealidade imposta pela sociedade virtual e do espetáculo o teatro do humano assume o caminho do meio no qual as pessoas chamam atenção para si na tentativa de sair da invisibilidade.

Como exemplo, cita o caso do seqüestro do ônibus 174 no Rio de Janeiro (2000), em que o autor, sobrevivente da chacina da Candelária (1993), assumiu o único espaço de visibilidade possível durante toda sua vida: o papel de seqüestrador.

A busca por visibilidade está na arte de rua, nos populares que se misturam anônimos ao dia-a-dia de cada cidade, na ação cultural como possibilidade de ação política, no campo da criação que é fundamental para o ser humano. Qual o resultado disso?, pergunta a atriz para a platéia para em seguida responder: Não se sabe. O poder do teatro está na arte da resistência, nas provocações que ele realiza, sintetiza Pardo.

O Geribanda segue com intensa programação cultural até sábado, 25, com oficinas, mostras de música, vídeo, teatro, dança e fotografia no Cidec-Sul do Campus Carreiros da FURG.