ENCHENTES

“Ser criança é um direito fundamental e que precisa ser cuidado, respeitado e garantido”, destaca a professora do IE, Suzane Gonçalves

Coordenado pela docente, a “sala de brinquedos” do abrigo da FURG atendeu crianças e adolescentes durante este difícil período

Foto: Acervo

Partindo da ideia de garantir à criança e ao adolescente o direito à infância plena - sobretudo no momento adverso que o Rio Grande do Sul atravessa desde meados de abril – as professoras da FURG, Suzane da Rocha Vieira Gonçalves e Ana do Carmo Gonçalves, coordenaram ao longo do mês de maio espaços voltados para o público infantil em dois abrigos da cidade do Rio Grande. A ação envolveu uma série de atividades desempenhadas diariamente como contação de histórias, realização de oficinas e momentos lúdicos.

“Nossa ideia era promover um espaço de acolhimento, onde poderíamos conversar e brincar com essas crianças. Então fizemos oficinas de pulseirinhas, culinária, slime, origami e até uma atividade com o palhaço circense com o palhaço Pepito. Nesse meio tempo, algumas pessoas foram nos procurando para realizar ainda mais atividades, contribuindo para o crescimento do projeto, a exemplo de ações propostas por colegas do Instituto Federal (IF-RS) e até mesmo uma sessão de cinema especial a convite do Praça Shopping”, destacou Suzane.

Como surgiu a ideia?

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De acordo com Suzane, logo no início dos primeiros alagamentos na região metropolitana de Porto Alegre, em decorrência da passagem do Evento Extremo, professores, técnicos e pesquisadores do Instituto de Educação da FURG (IE), pertencentes ao Núcleo de Pesquisa em Educação da Infância (Nepe) - e do braço extensionista do mesmo núcleo, o Ateliê da Infância – participaram do Fórum Gaúcho de Educação Infantil, espaço no qual foram levantados alguns questionamentos específicos a respeito do momento vivido. “Uma das questões discutidas foi o olhar para a infância, em especial para as crianças que precisaram deixar suas casas, que perderam suas coisas e que não estão frequentando as escolas; agora colocadas nos abrigos”, completou a docente.

Mesmo considerando os desafios do período e sabendo que o foco dos abrigos é poder oferecer um local seco, com alimentação e higiene para as pessoas afetadas, o grupo não deixou de pensar no impacto que isso causaria para as crianças e adolescentes da comunidade. Assim, quando teve início no município a mobilização para montagem de abrigos, a equipe iniciou, também, uma mobilização interna para realizar uma campanha de arrecadação de brinquedos e livros infantis, que viriam a compor espaços dedicados para as crianças nos futuros abrigos locais.

“Em um primeiro momento fizemos contato com os abrigos montados junto às Escola Lemos Júnior e Wanda Rocha. O primeiro veio a ser coordenado pela Cruz Vermelha, que mobilizou uma equipe própria para fazer o cuidado com as crianças ali abrigadas; com isso, ficamos responsáveis por implementar o projeto junto ao abrigo do Wanda Rocha”, declarou Suzane. Neste espaço, a coordenação da sala dedicada às crianças foi da professora Ana do Carmo Gonçalves, que também é coordenadora do Nepe.

Na FURG

Logo em seguida, a Universidade começou a preparar o seu abrigo, capaz de alojar mais de mil pessoas, além de cães e gatos com tutores. Neste momento, foi realizada uma reunião para mobilizar os extensionistas da instituição, oportunidade que o Nepe aproveitou para apresentar a ação e relatar sobre a importância e o andamento das atividades realizadas junto ao abrigo do Wanda Rocha. “O primeiro grupo que recebemos na FURG foi de um lar temporário para crianças. Na ocasião, fizemos a doação de parte do acervo de brinquedos e livros que arrecadamos. Quando foi finalizado tanto o abrigo do Caic quanto do Pavilhão 4, inserimos no projeto uma sala dedicada especialmente para as crianças”, explica Suzane.

Ao todo foram cerca de onze crianças e adolescentes, com idades entre dois e 15 anos. A sala – anda ativa – funciona das 9h às 12h e das 13h às 20h, e conta o apoio de diversos voluntários, como professoras do município vinculadas aos grupos de pesquisa do IE, alunas do curso de graduação em Pedagogia, bolsistas do ateliê, do Nepe e do Grupo de Pesquisa em Educação e In/exclusão, além de outros estudantes da instituição que se inscreveram para participar das atividades do abrigo junto ao cadastro geral de voluntários.

“Nós combinamos com as crianças que cada uma delas levaria para casa, quando retornasse para seus lares, alguns brinquedos da sala. É preciso enxergar e reconhecer que muitas crianças também tiveram as suas perdas durante as enchentes, como seus brinquedos, por exemplo”, apontou a coordenadora.

“O direito à infância é um direito fundamental de toda criança”

Ainda segundo a docente, o trabalho foi realizado todo a partir da perspectiva do direito da criança à infância plena, ou seja, o direito de brincar. A sala, por sua vez, se constituiu como uma forma de olhar para as infâncias, e, durante um período complicado, tentar suavizar as dificuldades que as crianças também passaram – e ainda passam. “Nossa intenção era tornar esse momento mais leve, e, ao mesmo tempo, possibilitar que os pais pudessem se reorganizar e retornar para suas casas”, adicionou Suzane.

Atualmente, no momento de publicação desta matéria, a Sala do abrigo da FURG conta com apenas duas crianças, uma vez que a situação geral começa a apresentar sinais de retorno à normalidade, com os corpos d’água – em especial a Lagoa dos Patos que se faz presente ao redor do município – voltando às suas cotas de inundação normais e deixando de invadir os espaços urbanos. Em retrospecto, Suzane avalia a iniciativa como um grande sucesso, uma vez que os objetivos propostos pelo grupo foram alcançados, proporcionando um espaço de acolhimento, atenção e cuidado.

Para o futuro

Passado o período de atividades da sala junto aos abrigos, a coordenação da atividade, em conjunto com a Pró-reitoria de Extensão e Cultura (Proexc) e a Diretoria da Extensão (Diex), fará a documentação de toda a experiência, para que, dessa forma, seja possível embasar ações futuras e a construção de políticas sociais voltadas para a garantia da infância. “Assim como a FURG possui o Comitê de Eventos Extremos, responsável pelas análises e prognósticos da situação climática, também precisamos de um grupo voltado para questões sociais, e essa já é uma ideia discutida pela instituição”, acrescentou Suzane.

Essa ideia se configura de forma ainda mais importante uma vez que findada a passagem do fenômeno climático, pois é neste período que novos desafios se apresentarão, consequência do período vivido. Por exemplo, é possível citar a situação escolar de diversos municípios do Estado, cujas estruturas escolares foram severamente danificadas, assim como as escolas da Ilha dos Marinheiros e da Torotama, em Rio Grande. Quanto a isso, o Nepe, enquanto núcleo, afirma seu compromisso social e se coloca à disposição da comunidade, na perspectiva de poder desenvolver ações com professores e com as escolas afetadas para oferecer suporte e apoio pedagógico neste momento de reconstrução que se inicia.

Confira a seguir alguns registros das atividades desenvolvidas pelo grupo com as crianças atendidas.

 

Galeria

Coordenado pela docente, a “sala de brinquedos” do abrigo da FURG atendeu crianças e adolescentes durante este difícil período

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