AGENDA SOCIAL

Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico: confira a segunda entrevista da série em alusão à data comemorativa

A segunda entrevistada é a professora Mayara Roberta Martins, do Instituto de Ciências Humanas e da Informação (ICHI) do Campus Santa Vitória do Palmar da FURG

Em comemoração ao Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico, celebrado no dia 8 de julho, a Secretaria de Comunicação (Secom) em parceria conjunta com a Agenda Social e Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (Propesp), dá continuidade à série de entrevistas com pesquisadoras dos quatro campi: Rio Grande, São Lourenço do Sul, Santo Antônio da Patrulha e Santa Vitória do Palmar.

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A segunda entrevistada é a professora Mayara Roberta Martins, do Instituto de Ciências Humanas e da Informação (ICHI) do Campus Santa Vitória do Palmar da FURG. Ela possui graduação em Turismo pela Universidade Federal de São Carlos (2009). Mestre em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Doutora em Ambiente e Sociedade pela Universidade Estadual de Campinas.  É professora permanente do Programa de Pós-graduação em História (PPGH – ICHI/FURG) e atual coordenadora acadêmica do Laboratório de Pesquisa em Turismo (Latur/FURG). Também lidera o Grupo de Estudos em Turismo do Extremo Sul (Getes/FURG).  Além disso, colabora com o Grupo de Pesquisas em Agricultura, Alimentação e Desenvolvimento (Gepad/UFRGS) e no Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte (LAP/Nepam/Unicamp), e membro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo (Anptur) e da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade (Anppas). Atua principalmente nos temas relacionados ao Turismo de Base Comunitária; Áreas naturais e comunidades; Patrimônio Agroalimentar; Juventudes e Grupos Etários; Sustentabilidade; Educação Ambiental; Estudos da Alimentação e Consumo; Hospitalidade e lazer; Patrimônio Natural-Cultural; Turismo, Saúde e Bem-Estar.

Confira abaixo a entrevista com a pesquisadora.

A tua área de pesquisa envolve um turismo norteado pelas questões do patrimônio agroalimentar dos pratos típicos de Santa Vitória do Palmar. Nesse sentido, como tu enxerga o papel da contribuição científica para a valorização da cultura e da relação de pertencimento?

Mayara: Como contribuição desta pesquisa espera-se que possamos incentivar a valorização dos saberes típicos e locais relacionados com as formas de cultivos de produtos agrícolas, ou manejo sustentável produtivos, elementos fundamentais na composição da tradição culinária, desenvolvida no Extremo Sul do Rio Grande do Sul. De fato, busca-se o apreço pelos laços afetivos, sociais, culturais e ambientais relacionados com a culinária típica, valorizando assim, a características específicas do clima temperado, do bioma Pampa e da integração de fronteira entre Brasil e Uruguai.

Contando um pouco mais sobre essa temática de pesquisa e construção de redes de cooperação, assim que ingressei na FURG em 2020, aos poucos fui me inteirando mais sobre as questões socioambientais e culturais de Santa Vitória do Palmar. Desse modo, dialogando com outros pesquisadores e parcerias institucionais, como ex-professores e grupos de pesquisa que já integro desde minha formação em instituições como UFSCar, UFRGS e Unicamp, comecei a estabelecer pontes de diálogos e aproximações nesta perspectiva do Patrimônio Agroalimentar. Ao longo de minha trajetória acadêmica sempre tive como objeto de estudo a perspectiva dos jovens rurais em diversas experiências e ações coletivas para o turismo e conservação ambiental (sejam como agricultores familiares e comunidades tradicionais), alguns elementos surgiram com mais necessidade de aprofundamento, principalmente, na questão da discussão ampla sobre alimentação como patrimônio e suas potencialidades para o turismo. Assim, nasceu a ideia do projeto de pesquisa que coordeno intitulado: “O Patrimônio Agroalimentar, o Turismo e o Desenvolvimento Regional: Construindo saberes e práticas”, que é um projeto contínuo, cujo foco é discutir e levantar os entendimentos sobre o patrimônio agroalimentar, num contexto de análise associada ao turismo como possibilidade de desenvolvimento regional. O objetivo geral consiste em analisar os principais desafios enfrentados pelas comunidades locais com relação ao entendimento e a discussão sobre o patrimônio alimentar e o turismo em áreas rurais do Extremo Sul do Rio Grande do Sul, Brasil. Essa problemática ganha viabilidade por agregar valor econômico ao resgate histórico cultural por meio das memórias e registros documentados de tradições alimentares no Brasil.

Houve uma primeira etapa, com o subprojeto intitulado “Pesquisa Bibliográfica e Sistematização das Informações sobre Patrimônio Agroalimentar, Turismo e Desenvolvimento Regional (2021 a 2022)”, que teve como objetivo sistematizar dados primários sobre essas temáticas. Depois, realizamos um levantamento de dados e o estudo da literatura para evitar duplicações e erros na organização dos futuros trabalhos de campo entre Santa Vitória do Palmar e o Chuí. Nesta fase, tive como parceria profissional a professora Sandra Corbari, que foi professora substituta na FURG (no período remoto). Desta passagem da Sandra na FURG, tivemos uma orientação de estágio da egressa Andressa Aguiar, que foi oportunizada dentro desta temática, e por dedicação, envolvimento e curiosidade da discente gerou a publicação deste artigo científico. A publicação também contou com a participação da aluna Ana Laura Silveira Garcia, do Curso de Bacharelado em Turismo, que foi minha orientanda de Iniciação Científica com cota de bolsa do CNPq e colaborou com um amplo levantamento bibliográfico desta pesquisa inicial. O resultado foi publicado na MPU da FURG e ainda pretendemos escrever mais um artigo detalhando os dados deste levantamento bibliográfico, bem como as lacunas encontradas para futuras pesquisas.

No âmbito de um projeto maior, foi realizada em 2022, a submissão da etapa de levantamentos de campo (com entrevistas) para o Comitê de Ética de Pesquisa (CEP- FURG), no qual, obtivemos a aprovação para a realização da etapa com levantamento de atores locais e protagonistas das ações relacionadas com os modos de fazer dos principais pratos típicos de Santa Vitória do Palmar. Contamos com o auxílio do discente Erick Targin, do curso de Bacharelado em Turismo, que foi bolsista Epec), neste envolvimento e contatos prévios para as entrevistas, assim como sistematização dos dados. Devido a questões de ainda preocupação com a Covid 19, corte de bolsas no final do ano passado, a pesquisa precisou ser reajustada para ampliar a concretização da fase de entrevistas, análise e publicações.

Assim, nesta terceira fase, foi organizada a continuidade da etapa de trabalho de campo, para os anos de 2023 a 2024, após nova submissão do projeto e a partir da aprovação de uma cota de bolsa Fapergs do Edital Simplificado da Propesp 2023. Deste modo, reorganizando a sequência da organização dos trabalhos de campo, dentro do calendário acadêmico e conforme a disponibilidade dos entrevistados, a pesquisa pretende traçar um levantamento da situação do patrimônio alimentar em Santa Vitória do Palmar e depois entre Chuí.

E como aproximar este conhecimento produzido na universidade da população em geral?

Mayara: Com base em princípios da metodologia utilizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e, após análise dos dados e discussão, pretendemos ao longo dessa pesquisa fomentar articulações e ações nas cidades pretendidas para a realização de campo, tais como: ampliar as possibilidades de comercialização e valorização de produtos agrícolas locais, fomentar mercados alternativos de comercialização, valorizar a culinária local e hábitos alimentares mais saudáveis, assim como aliar a discussão regional com a conservação da biodiversidade local, já que a Palmeira de Butiá, por exemplo, é uma espécie ameaçada de extinção e há artesanato e pratos típicos com o butiá, assim como o apelo afetivo de sua representatividade no território e no Bioma Pampa. Além disso, com esses dados da pesquisa, pretende-se potencializar a valorização dos saberes e práticas comunitárias, por meio de divulgação científica, apoio de projetos e iniciativas locais, que possam contribuir como a valorização da identidade local/regional e de fronteira. Assim, pratos típicos como o churrasco, carne de ovelha, famosas trancinhas de Natal, licor e doces com butiá e outras culinárias, vão ser detalhados ao longo da pesquisa, assim como as pessoas, que se fazem esses ofícios, sobretudo, para disseminar os mais jovens para conhecerem mais o seu patrimônio agroalimentar e potencializar a criatividade dos mais jovens neste tema. Além disso, estamos fomentando a formação de parcerias e colaborações institucionais nesta temática com a Unicamp, UFRGS, UEPG, Fepam-RS, ICMBio UFPel, Embrapa Clima Temperado, Emater, Senar-RS, Fepam-RS, ICMBio, Rota dos Butiazais, Udelar e prefeituras locais, assim como outros atores sociais e interessados que possam contribuir ainda mais com o fortalecimento destas ações no Extremo Sul.

Como tem sido o seu trabalho na coordenação do Laboratório de Pesquisa em Turismo (Latur)?

Mayara: Iniciei os trabalhos como Coordenadora Acadêmica do Laboratório de Pesquisa em Turismo (Latur), ainda durante o período de trabalho remoto, no ano de 2020, como apoio à pesquisa e extensão, principalmente ao curso de Bacharelado em Turismo, mas também com as parcerias com os cursos de Hotelaria e Eventos, ambos do ICHI. Para termos uma atuação mais próxima dos discentes e docentes, em 2020, reativamos ações para a comunicação cientifica nas redes sociais. Já tínhamos uma página do Latur no Facebook, depois foi criada uma página no Instagram. Nesses espaços priorizamos notícias sobre pesquisas, projetos, eventos científicos do Campus de SVP, da FURG e de outras instituições de pesquisa, além de vagas e oportunidades de emprego e atuação profissional, principalmente para os discentes e interessados na área de turismo. Também recriamos como projeto de Extensão, conhecido como “Diálogos com Latur”, com palestras no YouTube do Laboratório abordando temas diversos envolvendo a participação de pesquisadores convidados de outras universidades.  Para abrigar os projetos de pesquisas dos professores dos cursos de Turismo, Hotelaria e Eventos, criamos o Grupo de Estudos em Turismo do Extremo Sul (Getes), aprovado pelo Diretório de Grupos do CNPq, no qual estou como líder e conto com a parceria e apoio do Professor Jaciel Kunz (vice-líder). Neste sentido, também estamos impulsionando a participação dos pesquisadores em editais da FURG, CNPq, Fapergs para fomento à pesquisa e de bolsas para nossos discentes, além de possíveis seminários e palestras integrando instituições como UFPR, Unipampa, UFSM e UFPel.

 No Latur também abrimos a oportunidade, via Editais de Seleção Interna, para abrigar os estágios obrigatórios dos cursos, auxiliando na conclusão de curso dos discentes, durante o período pandêmico. Com o retorno presencial, oferecemos duas vagas por semestre, voltados para casos específicos, já que incentivamos os alunos a buscar oportunidades fora da FURG, principalmente em empresas e organizações (públicas ou privadas) para terem uma experiência de inserção no mercado de trabalho.

Quais são as perspectivas futuras de sua área de pesquisa?

Mayara: Como perspectivas futuras, almejo fortalecer as parcerias institucionais já mencionadas e fortalecer redes de cooperação com instituições de pesquisa, tanto nacionais como internacionais. Com relação as minhas áreas de interesse de pesquisa, desejo fortalecer mais as iniciativas em prol de ações para o turismo sustentável, principalmente na perspectiva dos bens comuns, que foi utilizada em minha tese de doutorado e tem como principal expoente, os trabalhos realizados pela Elionor Ostrom (Primeira Mulher Prêmio Nobel de Economia) e pesquisadores vinculados a Universidade de Indiana (EUA). Sobre a questão do Patrimônio Agroalimentar, pretendemos alavancar possibilidades de fortalecimento da temática do Turismo, Alimentação e Patrimônio, de modo a possibilitar debates, identificar potencialidades e incentivas a organização de arranjos produtivos locais. Para isso, a pesquisa tem como forma de contribuição o fortalecimento dos atores sociais, a partir do resgate das receitas mais tradicionais, além de promover ações e articulações (locais/regionais/estaduais), que reitere a importância desses saberes, como importantes para a cultura e do turismo no âmbito de Santa Vitória do Palmar e do Chuí. Nesse sentido, contaremos também com a parceria com o Laboratório de Arqueologia Pública “Paulo Duarte” (LAP), Unicamp, por meio da atuação da Doutora Cristina Fachini (Pós Doc do Nepam e Pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas), essa parceria vem se sendo nutrida na consolidação da temática de Patrimônio Alimentar e Turismo, já que Cristina vem estudando e colaborando como iniciativas em comunidades tradicionais (no interior de São Paulo) e, desta interação, surgiu a oportunidade desse debate por meio de minha atuação na FURG, abrindo oportunidades para os levantamentos e trabalhos de campo no Extremo Sul. Na área socioambiental, contamos com a parceria firmada com a Analista Ambiental, Raquel Pretto da Fepam, por meio do projeto de pesquisa “Turismo e Conservação: Uma avaliação sobre o território do Plano de Ação Territorial Campanha Sul e Serra do Sudeste no Rio Grande do Sul, que teve uma cota de bolsa aprovada pelo Pibic da Fepam. Também participa desta proposta, o Analista Ambiental do Sema, o biólogo Luciano Rodrigues Soares. Esse projeto irá identificar as atividades turísticas, existentes e potenciais, e avaliar a sua relação com as espécies-alvo do território do Plano, formado por 18 municípios: Dom Pedrito, Lavras do Sul, Caçapava do Sul, Santana da Boa Vista, Bagé, Hulha Negra, Aceguá, Candiota, Pinheiro Machado, Piratini, Pedras Altas, Herval, Jaguarão, Arroio Grande, Pedro Osório, Cerrito, Canguçu e Encruzilhada do Sul. Deste modo, há uma frente ampla de trabalhos  nas áreas de concentração como turismo, gestão ambiental, conservação e sustentabilidade.

Qual conselho você daria para quem deseja seguir carreira na área da ciência e pesquisa?  

Mayara: O meu conselho para quem deseja seguir na carreira de pesquisador (a) é que os alunos possam desenvolver princípios de coragem, autonomia, persistência e resiliência diante dos desafios e dificuldades da trajetória acadêmica. Que sejam curiosos e perguntem sobre os temas de pesquisas dos professores e como eles podem talvez colaborarem até de forma voluntária, caso não se tenham bolsas de fomento. Indico que os alunos busquem pela disciplina de leitura de textos acadêmicos e não acadêmicos, já que essa prática é fundamental para a melhora dos textos acadêmicos e da construção da percepção crítica que iremos construir ao longo da carreira. Além disso, que possam também participar de eventos científicos, voluntariado, estágios (não obrigatórios), organizações como empresas juniores, atléticas e diretórios acadêmicos, pois essas vivências consolidam os processos de tomadas de decisões e o amadurecimento interno dos discentes e desses coletivos, contribuindo também para o aprendizado com base na ciência e na pesquisa, tanto para seguir numa futura carreira acadêmica, como para se tornarem bons profissionais para o mercado de trabalho.

 

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