Aula Inaugural FURG 2018 é marcada por receptividade e expressão feminina

A reitora Cleuza Maria Sobral Dias, acompanhada de sua equipe de gestão, ministrou a Aula Inaugural “FURG: uma universidade com vida para novos desafios”, na noite da última quinta-feira, 5, no Cidec-Sul. A atividade de acolhida aos novos estudantes foi oportunidade de reforçar o papel fundamental da comunidade acadêmica, especialmente o discente – calouros e veteranos, na defesa da universidade pública. Após, o show “Elas no Palco” marcou o encerramento do Março Lilás. 

Cleuza Dias, juntamente com Danilo Giroldo, vice-reitor, apresentaram uma visão panorâmica sobre a atuação e as oportunidades que a FURG tem a oferecer, e os pró-reitores Renato Dias, de graduação, Daniel Prado, de extensão e cultura, Daiane Gautério, de assistência estudantil, Lúcia Anello, de gestão de pessoas, Mozart Martins Filho, de planejamento e administração, e Marcos Amarante, de infraestrutura detalharam as especificidades de suas áreas.

A vocação e a estrutura multicampi, os documentos estruturantes – Projeto Pedagógico e Projeto de Desenvolvimento Institucional, a política de gestão ambiental recentemente aprovada, várias iniciativas de pioneirismo da universidade, o crescimento experimentado na última década e os diferenciais da FURG foram mencionados. O vice-reitor ressaltou a horizontalidade das relações, o acesso às estruturas administrativas e a proximidade com a comunidade como características fundamentais da identidade da FURG. Entre os pró-reitores, o reconhecimento das dificuldades que o recente modelo de governança federal institui foi unânime e a postura da universidade diante da conjuntura nacional resumida por Lúcia Anello: “estamos aqui todos os dias trabalhando e garantindo que o maior ato revolucionário que podemos fazer enquanto país pobre, em desenvolvimento, é estudar, é pesquisar e fazer extensão”, disse.

Para que a FURG “continue crescendo nesse projeto, de expansão, de interiorização, mas acima de tudo, projeto de inclusão, de respeito às diferenças e às diversidades. Essa é a maior contribuição que todos nós que estamos aqui podemos dar à sociedade”, considerou a reitora.

Todas elas no Palco

Com o poema “Eu mulher, eu terra”, a professora Marcela Wanglon Richter abriu o show “Elas no Palco”. A luta, a vida e a resistência das mulheres indígenas são tema do texto - que encantou o público. Além de literatura, o espetáculo integrou música e dança com a participação de Deka Santorum, Gilmara Colares, Luciana Lima, Paola Kirst, Grupo Kiai, Raquel Laurino, Ariel Lexistão e Vanessa Martins.

O Projeto “Elas no Palco” tem o objetivo apresentar à comunidade universitária e rio-grandina a expressividade das mulheres artistas de Rio Grande e, com isso, resgatar a importância fundamental de empoderar, dar voz e vez às mulheres como protagonistas na arte e cultura. De acordo com a musicista e uma das organizadoras do evento, Deka Santorum, a proposta foi abraçada pela universidade com empolgação.

“Pensávamos em compreender a diversidade da manifestação artística de mulheres na música, na dança e na literatura. O show foi incrível. Depois de ontem ficou mais evidente a necessidade de seguir com o projeto, trazendo mais mulheres e outras manifestações artísticas”, ressaltou.

“O papel da poesia é este: despertar a beleza que tem dentro de cada um”. - Marcela Wanglon Richter

Vem do deslumbramento pelas pessoas, pela vida, pelo amor ao aprendizado, por tudo de bonito que existe. A beleza faz isso com todos nós. E o papel da poesia é este: despertar a beleza que tem dentro de cada um. A beleza compromete, faz sonhar, nos engaja em lutas maiores. A poesia apareceu na minha vida desde sempre. Eu era uma criança muito curiosa, gostava de observar as pessoas e imaginar coisas. Eu fazia histórias que só eu entendia e interpretava. Além disso, tive uma infância muito rica, com mulheres fortes. Nasci no bairro Getúlio Vargas, a minha avó trabalhou em uma indústria de pescados por mais de 30 anos. E lá conheci mulheres brilhantes, maravilhosas, que foram minhas mestras. Um pouco das histórias delas está comigo, está presente no que eu escrevo. Eu sou muito grata à vida por ter me dado essa oportunidade. Não somos mestres, doutores, pós-doutores. Nós estamos. É um instrumento para uma coisa maior. Se não fizermos disso algo maior para o próximo, para as pessoas, não fará sentido... acumular títulos, estender o currículo. A vida é muito mais do que isso, a vida é grandiosa quando aprendemos uns com os outros e se doa. A causa maior é o amor, o bem, a bondade, a ternura. Eu sou filha da classe pobre, de um bairro historicamente marginalizado, sou filha e neta de pescadores, de operários e estudei na FURG, uma universidade pública. Temos que ter compromisso. É um sonho que as pessoas ao lerem e ouvirem a minha poesia sintam a mesma alegria e comunhão que eu sinto pensando nelas. Que possa tocar o coração. Quando escrevo me sinto gente. Eu me sinto uma pessoa no mundo. É importante não esquecer de onde viemos. Esse enraizamento profundo - a nossa história -, que é bonita e de luta, nos direciona. Direciona os nossos sonhos, os nossos projetos, nos faz ter força e vontade.

“Querem acabar com a vida do artista, mas como arte é resistência, não vai ser agora”. - Ariel Lexistão

Dentro do convite, para nós é um momento de confirmação do nosso trabalho. Ou, independente se é um “trabalho” ou não. Mas da nossa resistência, do empoderamento, de mostrar que somos fortes, que estamos e podemos ser artistas, independentes. E, com união, podemos sempre crescer mais para espalhar a arte. Querem acabar com a vida do artista, mas como arte é resistência, não vai ser agora. E, lembrando: Marielle, presente! Vamos representar Marielle lutando e com voz ativa. Estamos cansadas de ser caladas, silenciadas. Agora além de expressão corporal, vamos colocar a boca no trombone e vão ter que nos aceitar.

“Fiquei arrepiada do início ao fim com a ligação que se estabeleceu”. – Deka Santorum

Fiquei arrepiada do início ao fim com a ligação que se estabeleceu entre cada uma no palco, dando sentido ao que queríamos mostrar. Vivemos um momento complicado no país e, ao mesmo tempo, propício para unir forças. Quando se propõe a unidade, fazer algo de forma coletiva, o resultado é maravilhoso. Foi uma noite pesada para quem luta pela democracia, mas ouvi que o show foi revigorante para seguir a luta. Precisamos de união para dar seguimento a esse tipo de proposta.

“Com os nossos corpos, enfrentamos muita coisa”. - Raquel Laurino

Estamos começando a dançar como um grupo. E juntas, nesse show, representa muito. É um show com pessoas que a gente admira. Estar entre elas significa que a nossa trajetória está no caminho. Todas temos em comum o trabalho com o empoderamento, uma palavra que está sendo super batida, mas que tem tudo a ver com o que a gente faz. Vivemos um momento histórico. Com essa conjuntura toda, artisticamente, com os nossos corpos, enfrentamos muita coisa. A minha profissão primeira não é essa. Então, eu estou aqui depois de ter trabalhado o dia inteiro. Eu vou dar aula depois de ter trabalhado. Então, isso é a resistência também, né? Apesar de tudo o que a sociedade nos impõe, estamos resistindo. Eu sonho com a resistência através da arte. Não consigo definir em uma palavra. Não só por Marielle. Estamos aqui por todas elas. Por Leila Diniz, por Elza Soares. E por todas as mulheres que nos precederam e tornaram esse momento possível. Então é muita emoção.

“Eventos como esse que são importantes para mostrar a força feminina”. -Gilmara Colares

É importante acreditar no nosso potencial independente de gênero e se respeitar com humildade. A Deka, a Paola e a Luciana são cantoras que eu admiro e, acima de tudo, tenho muito carinho. É muito bom poder dividir esse momento com elas, com vivências musicais diferentes. Então, poder unir essas tendências e fazer um show bacana não tem preço. Ficamos muito felizes que a universidade possa promover eventos como esse que são importantes para mostrar a força feminina.

“Eu sou mulher, além de ser mãe, dona de casa, esposa”. - Vanessa Martins

Para mim, tudo isso é novo. Sempre gostei de dançar e estar aqui, imagina, é uma coisa muito louca. É um mundo que não é bem o meu mundo. Mas mesmo assim eu preciso. Eu sou mulher. Além de ser mãe, dona de casa, esposa. Sou mulher e a gente tem que ter um tempo em que ninguém vai chamar e dizer: - Vem aqui, resolve isso. Aqui eu sou livre, leve e solta. Eu vim me divertir. Vim mostrar o que eu gosto de fazer.

 “Nosso objetivo é inspirar outras mulheres”. – Luciana Lima

Estamos aqui hoje para representar mulheres artistas do passado, aquelas que não tiveram espaço como nós estamos tendo. Nosso objetivo é inspirar outras mulheres, as mulheres do futuro, para que se dêem as mãos e lutem pelos seus direitos. É importante compartilhar o palco com mulheres rio-grandinas, mostrar que temos muitas mulheres artistas na cidade. Gratidão por essa noite e por esse espaço cedido pela FURG.

“Estamos de mãos dadas, unidas, gritando por uma liberdade de expressão, liberdade sexual, toda forma”. - Paola Kirst

Para mim foi uma experiência incrível poder estar no palco com muitas artistas que eu admiro há muito tempo e tenho como uma referência. Das cantoras, por exemplo, eu sou a que canta há menos tempo. São mulheres com um trabalho empoderador, que também compõem e têm força no palco. Uma força feminina absurda. E poder estar discutindo assuntos relacionados ao feminismo, atualmente, se faz um tanto urgente. Iniciativas como essa, da FURG, só contribuem para o trabalho do artista na cidade e com o ser humano, enquanto pessoa e mulher. O que vivenciamos, com diferentes sonoridades e interpretações femininas foi um encontro histórico. Foi muito bacana ver como o público reagiu às nossas falas e postura. Tenho muito orgulho de ser mulher e ser representada por tantas outras figuras importantes. Estamos de mãos dadas, unidas, gritando por uma liberdade de expressão, liberdade sexual, toda forma de liberdade e amor.

A Aula Inaugural foi transmitida ao vivo pela FURG TV e pela página da FURG no Facebook, onde pode ser conferida na íntegra.

Fotos: Stefanie Herz

 

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