Noite da patrona e de comemoração do aniversário do Cassino da 45ª Feira do Livro da FURG

A 45ª Feira do Livro da FURG, com o tema Histórias de Mulheres, é uma festa que celebra o livro, a leitura e a escrita, a arte e a cultura, e que propõe espaço para diálogos atuais sobre representatividades, principalmente a feminina, em diversos campos sociais, a começar pelo universo da literatura. A escolha das palavras para contar o evento, o arranjo das atividades culturais para compor a programação, a organização dos espaços da feira, e mesmo os ajustes e adequações finais, tudo isso em conjunto reforça a iniciativa da universidade de dar visibilidade a protagonismos de mulheres. O segundo dia da feira, que começou na quinta, 25, e vai até 4 de fevereiro, foi dedicado à Aimée Bolaños, patrona desta edição. Na mesma noite, destaque para o show Garotos da Rua Revival, em comemoração ao aniversário do Cassino, que levou cerca de 700 pessoas à Arena Cultural, para recordar sucessos dos anos 80, como “Meu coração não suporta mais” e “Tô de saco cheio”.

“Todo o livro é uma tentativa de transcender a angústia da temporalidade”.

Patrona ou patronesse? Com o debate semântico em segundo plano, entre um termo e outro, Aimée preferiu patrona para a ocasião e desde o convite anunciado pela reitora foi assim que a feira passou a fazer referência à escritora homenageada. Leitores, estudantes, professores e amigos de Aimée Bolaños se reuniram no Espaço Literário, às 21h da noite de sexta-feira, 26, para ouvir a patrona da 45ª Feira do Livro da Furg e em seguida participar da exclusiva sessão de autógrafos.

Mito, imaginação, memória, identidade e alteridade são os principais temas que perpassam e constituem a obra da escritora. A apresentação da poeta e a mediação da conversa foram feitas por Giliard Barbosa, professor do IFSul e doutorando em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), egresso dos cursos de graduação e pós-graduação em Letras da FURG, pesquisador e amigo de Aimée.   

De El libro de Maat (2002) ao bilíngue Juego de los trigramas/Jogo dos trigramas, ainda no prelo, o sujeito lírico “com sotaque brasileiro”, como ela gosta de dizer, se mostra e consolida o conjunto da obra. É com agradecimentos comovidos aos presentes que Aimée começa a contar de seu trabalho poético. Antígona e Yansã são as respostas imediatas quando questionada sobre seu mito pessoal. A primeira porque, apesar de trágica, é uma figura que se realiza profundamente como filha; a segunda pela força e pelo sentido de luta. “Tem um momento em que Antígona diz ‘eu nasci para compartilhar o amor, não o ódio’. Essa postura vital de Antígona me inspira profundamente. Yansã é vida além da morte. As duas falam sempre em liberdade, e acho que é o que nos define profundamente a todos, mulher, homem: ser humano. O mito é poderoso”, disse.

O consenso entre a Aimée crítica e a Aimée poeta nem sempre é fácil. “Eu fui professora sempre. Trabalho com teoria e com crítica, e um pouquinho com história da literatura. Essa crítica interior me incomodou muito e me impediu de publicar meus livros. Eu comecei a publicar aqui, neste século”, contou. A patrona falou ainda sobre o outro – “Somos o que somos e também o outro, mas o outro não existe fora de nós. Então, acho que o outro está fora. O outro estrangeiro. Às vezes fui, aqui não sou, mas o outro também é outra dimensão do próprio ser no exterior, que está em um corpo” – e o espaço do corpo – “O corpo numa totalidade significativa. O corpo é o espaço da alma, não é uma separação. O corpo é um lugar, um espaço, um lar. O lar da alma” – em sua produção criativa.

Sobre as mulheres brasileiras que lê, as principais referências para a patrona são Cecília Meireles, Adélia Prado, Clarice Lispector, Maria Carpi – presente na feira neste sábado, 27, Nélida Piñon, Conceição Evaristo e Carolina Maria de Jesus. “Meu cânone é muito aberto, muito inclusivo, porque está em correspondência, realmente, com a realidade e a riqueza da literatura brasileira”, comenta.

“Encontro no taoísmo inspiração profunda sobre o agora, sobre o presente, sobre estar inteira e totalmente em cada palavra, em cada gesto, em cada relação, em cada encontro. Porque a vida é encontro. E os encontros acontecem no presente. Então acho que agora estou indo por aí, por um tipo de pensamento, de entendimento e de prática poética que tenta contornar o tempo e além da temporalidade que é a fugacidade – nós escapando de nós mesmos. Estou procurando agora uma certa constância, um certo equilíbrio, uma certa estabilidade”. A angústia da temporalidade é um tema que constitui a poética de Aimée e está bastante presente na obra a ser lançada em breve (Juego de los trigramas/Jogo dos trigramas), com inspirações do budismo e do taoísmo. “Todo livro é uma tentativa de transcender a angústia da temporalidade”, concluiu.

Os livros de Aimée Bolaños estão à venda na banca da Edgraf, na feira, e disponíveis no site da escritora e professora (https://profaaimeebolanos.webnode.com). Leitores interessados podem solicitar versões em e-book de suas obras pelo e-mail aimee@vetorial.net.

Espaço Literário e Rua das Crianças

Às 19h, no Espaço Literário, a feira contou com a oficina “Cassino, águas, areias e ventos: elementos para a criação gráfica e literária”, ministrada pelo cartunista Wagner Passos, da Usina de Artes, coletivo de artistas da cidade do Rio Grande. Wagner apresentou a Praia do Cassino como elemento de criação literária, além de apresentar trabalhos que frisam a importância da linguagem através da imagem. O cartunista visualiza a cidade do Rio Grande e a Praia do Cassino com grande potencial de inspiração para a literatura. 

Na Rua das Crianças, foi realizada a Oficina de Consciência Fonológica, ministrada pela professora Susie Ilha, que tem como objetivo trabalhar com as crianças os sons, com recitar de poemas e, desta forma, exercitar a oralidade e a escrita. Com a Semente Olímpica, as crianças tiveram a oportunidade de desenvolver atividades corporais de ginástica acompanhadas de monitores. Segundo Denis França, coordenador do projeto, a Semente pretende aproximar e oportunizar o contato das crianças com o esporte. Crianças que passaram pela feira puderam prestigiar também a Tenda do Terror e a Biblioteca Itinerante do Caic.

Sábado na feira

Às 19h, no Espaço Literário, acontece a Roda de Conversa “Uma breve biografia de Nilza da Fontoura”. Na Arena Cultural, às 20h, haverá “Mulheres lendo poesia: um encontro com a escritora Maria Carpi”, com a participação dos estudantes da escola Wanda Rocha. Em seguida, às 22h, o show da noite é “Tango Sur Sexteto”, de Montevideo, interpretando os melhores tangos, milongas, valsas e candombes de autores uruguaios. A intervenção cênica Realejo Poético irá ocupar os espaços de circulação. E a Rua das Crianças terá atividades de hora em hora, a partir das 20h. Destaque da Rua nesta noite para Os ambientais e banda, com o projeto “Canção dos bichos: Rock e Natureza”; Bugigang: Lulu e a Lua; Música para Bebês e Crianças e Roda Musical, com grupo Sopa de notinhas.

Neste sábado, às 21h, o Espaço Literário recebe oito sessões de autógrafos:

Eu ti amo até o fim, de Claudio Renato Moraes da Silva

Inspirações, de Dalva Leal; Telha de Vidro – Nilza Rita Lourenço da Fontoura: aquela que reflete a luz, organizado por Maria Cristina Freitas Brisolara e Marilei Resmini Granthan

Ciclo da vida e O sol se tornando cinza, de Fábio Guerra

Victimologia: La recuperación de la víctima desde un enfoque criminológico y civil, de Vilson Farias

Condominio Saint-Hilaire, de Andréia Pires, Cristiano Vaniel, Daniel Baz, Daniella Domingos, Diogo Madeira, Gabriely C. Pinto, Giliard Ávila Barbosa, Joselma Noal, Lilian Ney, Luciano Teixeira Cáceres, Suellen Rubira, Tammie Faria Sandri e Volmar Camargo Junior.

Bacia da Lagoa Mirim e o Programa Nacional 35 – FAO? ONU: história, integração e desenvolvimento 1960/1994, de José Vanderlei Silva Borba

O Enfermeiro e a Educação em saúde, de Antonio Luis Corrêa Pereira   

Fotos: Karol Avila, Andrês Santos e Thomaz Lamas

 

Assunto: Arquivo