"O projeto não previu a força das ondas", afirma professor da FURG sobre o acidente na ciclovia Tim Maia no RJ

Carolina Silveira

imprensa@furg.br

O acidente na ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, em São Conrado, no Rio de Janeiro, foi tema de palestra técnica na manhã desta quarta-feira (27) na Universidade Federal do Rio Grande (FURG). O professor da FURG, Eloi Melo, que é engenheiro civil com doutorado em Ciências Oceânicas Aplicadas, apresentou uma análise técnica preliminar do acidente para os acadêmicos do curso de Engenharia Civil Costeira e Portuária da Instituição.

A palestra abordou questões técnicas sobre o projeto da ciclovia, com a análise preliminar das causas do acidente e detalhes sobre o contexto no qual a obra está inserida. De acordo com Eloi, a ação das ondas sobre a estrutura não foi incluída no projeto. “O projeto não previu a força da água induzida pelo galgamento do costão pelas ondas, que atuou de baixo para cima sobre o fundo da laje da ciclovia desestabilizando a estrutura”, revela. Os projetos geralmente são pensados, de acordo com Eloi, para suportar forças de cima para baixo. “No local em que a obra se situa, sobre um costão íngreme e liso e diretamente exposto às ondulações oceânicas, é fundamental incluir a ação das ondas no projeto”.

“Hoje em dia ninguém é mais pego de surpresa por eventos naturais como essa ressaca”, afirma Eloi. O nível de precisão dos atuais modelos de geração de ondas pelo vento permite que se preveja as condições de agitação do mar com boa precisão, de acordo com Eloi. As ondas que atingiram o Costão da Niemeyer, por exemplo, segundo o professor, foram geradas em 19 de abril por um ciclone extra-tropical no sul da Argentina e em dois dias atingiram a costa do Rio de Janeiro. “As ondas são formadas pelo vento no oceano e uma vez geradas elas criam ‘vida própria’ propagando-se por grandes distâncias, causando ressacas em costas longínquas, como ocorreu neste caso”, explica.

A altura das ondas durante o acidente, de acordo com o professor, era de cerca de 3 metros, uma faixa de altura de nível mediano para o contexto carioca. O que surpreendeu foram os períodos das ondas, que foram muito longos, com cerca de 18 segundos. Essa característica da ressaca fez a diferença, segundo o professor. Durante a palestra foram apresentados também aos acadêmicos cálculos e análises técnicas com base em dados preliminares estudados pelo professor, que ilustraram o galgamento do costão pela onda e a força exercida pela água sobre a estrutura. “É possível que haja outros trechos da ciclovia ainda em risco”, alerta. 

Na palestra, o professor sugeriu ações de engenharia para remediar o problema, dentre elas, a identificação de trechos de risco ao longo da ciclovia e, para esses locais, a reconstrução da estrutura levando em conta a força das ondas. Foram sugeridas também obras para amenizar o ataque das ondas através da construção de barreiras no costão, especialmente projetadas para impedir o galgamento das ondas.

Mesmo depois de reconstruída, o professor alertou para o risco que o local oferece: “Mesmo que a ciclovia torne-se, no futuro, estruturalmente segura, as ondas ainda podem atingir a ciclovia em dias de ressaca, pondo em risco quem transita pelo local”, explica. Uma das providencias a se tomar então, segundo Eloi, é a interdição prévia da ciclovia em dias de ressacas perigosas.

A atividade buscou destacar, principalmente aos estudantes, a importância prática da qualificação adequada do engenheiro civil que vai atuar na região costeira. A formação de engenheiros civis com conhecimento dos fenômenos naturais que ocorrem na costa é a proposta do curso de Engenharia Civil Costeira e Portuária que a FURG oferece desde 2010 e é o único do gênero no Brasil. “Esse acidente no Rio de Janeiro ilustra de forma trágica a necessidade de formação específica em engenharia costeira no nosso país. Buscamos, aqui na Universidade, formar profissionais para, justamente, preencher essa lacuna no mercado de trabalho brasileiro”, explica. A análise técnica apresentada na palestra traz para a prática os conhecimentos que são ensinados ao longo do curso e indica soluções para evitar que tragédias iguais a essa voltem a acontecer.

A palestra será transmita na íntegra pela FURG TV, às 22h de sábado (30). A emissora pode ser acessada pelos canais 15 da NET e 7 da Blue. Também pode ser acompanhada pelo site http://www.furgtv.furg.br.

 

Galeria

Assunto: Arquivo