Durante seis meses, dois professores da FURG mudaram-se para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. No icônico conjunto de prédios Emirates Towers, Jorge Alberto Vieira Costa e Michele Greque de Morais, ambos professores da Escola de Química e Alimentos (EQA) da universidade, desenvolveram um modelo de negócios com potencial de início praticamente imediato para a redução de emissões de dióxido de carbono (CO2) e uso de plástico no setor de aviação.
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De acordo com dados divulgados pela Aviation X Labs, a indústria de aviação produz 115mg de CO2 por passageiro a cada quilômetro, o que leva a um total anual de 859 milhões de toneladas do gás lançados na atmosfera. Jorge e Michele pontuam que estudos indicam uma estimativa ainda maior, e que este número pode chegar 1.650 milhões de toneladas por ano, praticamente o dobro do divulgado.
O casal brasileiro, que já figurou em relação dos cientistas mais influentes do mundo, levou para essa imersão na península arábica os conhecimentos de pesquisas que desenvolvem há décadas na FURG. A aposta da dupla é em nanotecnologia a partir do cultivo de microalgas, em especial a Spirulina, que durante seu crescimento captura CO2 da atmosfera. Em parceria com a Eletrobras, a mesma equipe projetou e construiu entre 2006 e 2016 uma das maiores plantas de captura de CO2 da América Latina em Candiota, onde há produção de energia termoelétrica. Mas no novo empreendimento a ideia é não apenas capturar o monóxido de carbono. Os pesquisadores propõem a utilização das microalgas também como matéria-prima na produção de bioquerosene para substituir parte do combustível utilizado na aviação - tudo de acordo com as normas da ASTM Standards, que, na regulamentação de padrões internacionais para a indústria aérea, permite a mistura de 50% de bioquerosene com o querosene de petróleo.
Para entender o impacto na redução de emissões, Jorge Alberto exemplifica com números: a produção de 200 a 300 litros de bioquerosene demanda 1 tonelada de microalgas. E essa quantidade, para desenvolver-se, absorve cerca de 2 toneladas de CO2. Em seu crescimento, as algas retiram CO2 da atmosfera e, na forma de bioquerosene, substituem parte do combustível de origem fóssil, reduzindo drasticamente as emissões.
Sustentabilidade
Jorge e Michele propõem também a substituição de itens descartáveis de plásticos utilizados na aviação, como copos e bandejas. A alternativa criada pelos pesquisadores foi a produção desses itens com bioplástico, produzido com a mesma matéria-prima do biocombustível: as algas “Um dos grandes problemas da aviação, atualmente, além da emissão de CO2, é a emissão de plástico. Já que são utilizados materiais de plástico dentro e fora dos aviões”, destaca Jorge. Os professores levam em conta que o destino de praticamente toda a produção de plásticos no mundo é o oceano e que estudos calculam que a média semanal de consumo de microplástico por pessoa equivale à figura de um cartão de crédito: 5g por semana ou 250g de plástico ao ano.
O desenho da proposta de startup assinada pelos professores foi apresentado em julho, depois de mentorias, workshops e criação de protótipos nas instalações da Aviation X Lab, no centro de desenvolvimento tecnológico denominado Area 2071, braço tecnológico da Dubai Future Foundation. Agora, aguardam o resultado, previsto para outubro, quando saberão qual será o aporte de investimento para lançar o negócio.
O retorno de Jorge e Michele ao Brasil ocorreu justo quando o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) lançou o relatório que alertou o mundo todo sobre as mudanças irreversíveis no clima desencadeadas pela ação humana. A única saída para que o cenário não piore ainda mais, apontou o documento, é a redução de CO2 na atmosfera.
Pesquisa brasileira de ponta
Muitas soluções de alta tecnologia para a sustentabilidade são desenvolvidas nas universidades brasileiras, mas um problema recorrente é a falta de interesse do mercado para a adoção e produção em escala. Já há alguns anos, a dupla de professores tem incentivado seus estudantes de pós-graduação a fazerem o registro de propriedade intelectual das soluções criadas na pesquisa, como uma forma de proteção do conhecimento gerado nas universidades públicas e de saída empreendedora, num cenário em que se desenham menos vagas para docentes pesquisadores nas instituições brasileiras.
“Aqui no Brasil, nossa proposta foi apresentada muitas vezes a empresas”, relata Jorge, mas o interesse, que não encontraram no país, veio no reconhecimento estrangeiro. “A experiência em Dubai foi também uma vitrine, já fomos contatados por outras empresas de diferentes países”, conta.
Com o negócio pronto para ser instalado em outros continentes, os professores não tiram os pés, nem os sonhos, do âmbito local. A proposta é ter uma conexão com o Parque Científico e Tecnológico da FURG, o Oceantec, para seguir conectando a inovação criada na universidade com empreendimentos que acolhem a inovação, seja no Brasil ou no exterior.