Celebrado no primeiro sábado do mês, o Dia Internacional das Cooperativas integra a Agenda Social do mês de julho da FURG e busca trazer visibilidade às comunidades internas e externas da universidade sobre a necessidade de fomentar iniciativas que vislumbrem um desenvolvimento econômico que esteja alinhado ao desenvolvimento social, à sustentabilidade e à coletividade.
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Asser
Atualmente, a Asser é mantida por 13 pessoas, e coleta aproximadamente 45 toneladas mensais de material reciclável em São Lourenço do Sul. O assessoramento da universidade tem fortalecido a atuação de catadores de material reciclável no município, estimulando processos de gestão em economia solidária e incentivando a emancipação política, econômica e social dos trabalhadores, integrantes da entidade que também se configura como uma cooperativa.
A aproximação com a equipe da FURG se deu a partir de um pedido da própria associação, que em 2016 enfrentava problemas em contratos firmados com a gestão municipal e permaneceu fechada por alguns meses, deixando as famílias sem renda. Naquele momento, 18 associados viviam em situação de trabalho precário. Parte ocasionada pela ausência de reconhecimento do poder público: inicialmente, a Asser recebia o subsídio de R$3.000 para realizar apenas a triagem do material reciclável, no entanto, o mesmo valor passou a ser pago para que além da separação, o grupo realizasse a coleta, onerando os gastos com combustível e manutenção do caminhão.
A vulnerabilidade era potencializada pela falta de conhecimento dos próprios associados sobre os processos de gestão em economia solidária, originando outro problema: o grupo não era participativo nas tomadas de decisões, e aceitava que uma só pessoa “gerenciasse” o local, realizando as transações financeiras sem conhecimento dos demais.
Parceria com impactos positivos
O assessoramento permitiu uma transformação significativa na renda de quem atua na cooperativa. Se em 2016 cada trabalhador recebia mensalmente por volta de R$200,00 - o que representava cerca de um quarto do salário mínimo na época -, agora a remuneração gira em torno de R$2.000,00, 65% acima do vencimento mínimo regulamentado pela lei. O crescimento de 900% no valor recebido ultrapassa significativamente o reajuste do salário mínimo pela inflação. Além disso, os associados passaram a contribuir regularmente ao INSS.
A mudança é reflexo não só da melhoria dos processos de autogestão. A parceria com a FURG também auxiliou na elaboração de contratos com maiores garantias aos trabalhadores, como o aumento do subsídio da Prefeitura, e a integração da associação a empresas mais consolidadas na compra do material reciclável, fugindo de atravessadores - pessoas que revendem o material coletado.
Márcia Umpierre, docente do Campus São Lourenço e coordenadora do projeto, explica, no entanto, que apesar do aumento na renda ser considerável, a equipe da universidade - por trabalhar a partir da lógica da emancipação - se preocupa com outros fatores, mensurando o sucesso do projeto também com métricas mais subjetivas. “É um processo para que eles tenham a renda, mas não basta só ter renda. É necessário que eles se compreendam enquanto partes da sociedade no meio em que eles vivem”, entende.
Para isso, é fundamental que todos se sintam responsáveis pelo empreendimento, como aponta Melissa Orestes, graduada em Gestão de Cooperativas e mestranda em Administração pela FURG. Atuando como voluntária da Ineesol, Melissa busca avaliar em sua dissertação os desafios de empreendimentos solidários, tendo como principal objeto de estudo a Asser. Ela acompanha a associação desde 2018, e analisa como os recicladores conseguem gerar viabilidade econômica, frente aos empreendimentos tradicionais. Assim, também elenca como desafios a importância da transparência e a divisão de responsabilidades entre todos.
Segundo a equipe da Ineesol, sempre foi objetivo da FURG construir as decisões junto aos integrantes da Asser, a partir de um viés dialógico de educação popular. Inicialmente, a universidade promovia e participava de encontros recorrentes, tanto na associação, como no Campus São Lourenço. Hoje, o grupo se reúne sozinho, chamando a FURG para discussões pontuais. São feitas reuniões todos os sábados, onde cada associado pode expor suas insatisfações e sugestões. Participantes do projeto de extensão, em primeiro momento, também elaboravam as tabelas financeiras e davam bases para a estruturação de atas, por exemplo, processo que agora já foi assumido de forma integral pelos cooperados.
A melhora na remuneração diminuiu a rotatividade dos associados e possibilitou que o grupo atuasse também na compra de materiais de 30 catadores autônomos do município, pagando um valor mais justo. Vale destacar que a preocupação com os catadores não-associados é frequente: um exemplo são as ações de distribuição de alimentos realizadas pelos cooperados aos trabalhadores autônomos, durante a pandemia. “Eles não fazem a distinção deles serem melhores ou piores que os catadores de rua, o intuito é fortalecer a classe. Isso mostra o quanto aqueles seres que estão lá, são seres que aprendem se ressignificam e que buscam realmente a melhoria não só deles individualmente, mas do processo coletivo”, diz a coordenadora.
Mudanças pela visão dos associados
“Antes, só uma pessoa tinha a palavra, agora todo mundo tem. Era como se fosse uma empresa, como se tivesse um chefe”, afirma o associado Emersom Almeida, jovem liderança da Asser. Ele, que mantém vínculo fixo como associado há cinco anos, conta que está envolvido com a economia solidária desde os 15, já tendo atuado na associação em outras ocasiões. Por conhecer de perto a realidade anterior e atual, destaca o papel fundamental da professora Márcia, que considera uma grande mentora, e de Tobias Manoel Martins, outra importante liderança do grupo, para o bom andamento dos trabalhos. “A FURG nos levou para o caminho certo”, entende.
Andressa Medeiros, catadora que atua há quatro anos na Asser, relata que a chegada da FURG modificou a forma do grupo enxergar o trabalho que desenvolve. “A FURG que nos instruiu em ficar sabendo qual a nossa importância na sociedade, porque a gente só trabalhava e dizia ‘ah, é reciclagem, a gente só trabalha e recebe o nosso salário’, agora não” conta, afirmando que a equipe ampliou as informações dos catadores sobre direitos. “A gurizada da FURG ajudou”, relembra.
Mesmo assim, Andressa entende que há desafios a serem enfrentados, principalmente no que diz respeito à valorização junto à comunidade e ao poder público. “O pessoal quer colocar o lixo na lixeira e que ele evapore. A gente presta serviço para a comunidade, mas a gente queria uma parceria com a Prefeitura em relação a isso, porque a gente está trabalhando pra manter a cidade limpa”.
Participação política
Com o projeto, a equipe extensionista estimulou relações dos associados em importantes fóruns e o ingresso em movimentos nacionais, como o Movimento Nacional de Catadores, o Reciclar pelo Brasil, a Associação Nacional de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat), e o Fórum de Economia Solidária, além de redes de fortalecimento regional. Para Emersom, essa articulação permite que os trabalhadores conheçam outros recicladores e projetos, qualificando o trabalho da Asser.
No entendimento de Márcia, é essencial que eles reflitam sobre o papel político que exercem. “Como podem melhorar as condições de vida deles e dos seus, das suas comunidades? Pra isso, precisa da emancipação política, para que eles sejam capazes de ocupar espaços públicos, de fazer as falas em defesa de seus direitos, e que não sejam utilizados como massa de manobra por parte de outras pessoas”, destaca.
O papel da extensão
Entre as principais missões da extensão universitária, está a de conectar os moradores do município à universidade. Mas para, além disso, a extensão transforma trajetórias, seja de estudantes, docentes ou da própria comunidade. “Ao fazer a extensão, ao conviver com estes grupos, principalmente com os catadores que é no caso desse projeto, mudou a minha forma de dar aula, a minha forma de ver o mundo, e consequentemente, o meu jeito enquanto professora”, relata Márcia.
A coordenadora explica que as atividades de extensão desenvolvidas pela universidade potencializam pesquisas e aprendizagens, não só pra ela enquanto docente, mas para todos os alunos do curso. “A extensão me alimenta. Hoje eu posso dizer que as minhas pesquisas são desenvolvidas a partir dos processos de extensão. As minhas aulas foram repensadas, a partir dos processos de extensão, e vice-versa”, completa.
A mestranda Melissa concorda, e relata a importância da extensão na sua trajetória enquanto estudante, profissional e cidadã. “Eu não teria seguido no mestrado se eu não tivesse ido à Ineesol. Tu sai da parte teórica e tu vê a parte prática. Tu vê a realidade, o que acontece”.
Projeto Agenda Social
A FURG em seu contexto multicampi realiza inúmeras ações, atividades e projetos, que dialogam com diferentes temáticas socioculturais, educativas e ambientais. Assim, com o propósito de visibilizar as produções, bem como celebrar a vida e manifestar os compromissos de luta e resistência, foi criada a Agenda Social da FURG.
O conceito é de dialogar, informar e visibilizar datas que expressam o compromisso social da universidade, assim como criar campanhas que buscam compor uma programação coletiva e plural, sempre que possível em parceria com os municípios de Rio Grande, Santa Vitória do Palmar, São Lourenço do Sul e Santo Antônio da Patrulha.
Com o intuito de estar presente ao longo de todo o ano na organização de trabalhos e ações da comunidade acadêmica, o projeto lançou um planner e calendários mensal e anual, que estão disponíveis neste link.