Instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) no fim de 2007, o dia 2 de abril, em todo mundo, é voltado para a conscientização do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Na FURG, dois setores de referência atuam para estimular a acessibilidade e a permanência de estudantes com o diagnóstico de TEA: o Programa de Apoio aos Estudantes com Necessidades Específicas (Paene) e o Núcleo de Estudos e Ações Inclusivas (Neai).
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De acordo com Elisa Celmer, coordenadora da Caid, à coordenadoria fica a responsabilidade por fomentar a adesão e implementação de políticas públicas de inclusão. Os principais setores que operacionalizam essas políticas são o Neai e o Paene. “A Caid surge justamente para somar-se a estes grupos com intuito de fortalecer, ampliar e divulgar as práticas inclusivas na comunidade universitária”, declara a professora.
Ainda segundo Elisa, a universidade oferece, em termos de acesso, políticas como a de incentivo ao ingresso na graduação, gerida pelo Programa de Ações Afirmativas da FURG (Proaaf) desde 2013 – de acordo com resolução do Conselho Universitário -, que prevê a reserva de vagas para pessoas com deficiência.
Apoio e acompanhamento: o Paene
Devido às demandas originadas a partir do ingresso de pessoas com deficiência, e visando atender ao Programa Institucional de Desenvolvimento do Estudante (PDE) da FURG, foi implementado pela Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) o Programa de Apoio aos Estudantes com Necessidades Específicas, o Paene, em 2010. É este setor da instituição responsável pelo acolhimento e apoio de estudantes do espectro autista, por meio do trabalho de bolsistas que realizam o acompanhamento desses alunos, potencializando suas capacidades acadêmicas.
De acordo com Joice Maurell, coordenadora de Acompanhamento e Apoio Pedagógico ao Estudante, órgão ao qual o Paene é vinculado, hoje o programa atende onze estudantes com TEA, e para isso conta com nove bolsistas. O trabalho desenvolvido pelo setor dispõe de três modalidades: ambiente universitário, sala de aula e, recentemente, devido ao contexto pandêmico, interação digital.
Confira no vídeo abaixo o relato de dois estudantes autistas da FURG e de um bolsista do Paene.
Atualmente, são atendidos estudantes autistas em diferentes cursos, como Biblioteconomia, História, Letras-Português, Letras-Espanhol, Física, Matemática Aplicada, Biologia e Arqueologia. “Nesses cursos, dois estudantes já se formaram na universidade e agora estão em sua segunda graduação, inclusive um deles se tornou bolsista de outro acadêmico do espectro autista”, complementa a coordenadora.
Ainda de acordo com Joice, os estudantes podem ser acompanhados pelo Paene ou não, conforme escolha própria. Dessa forma, alguns acadêmicos entendem que não necessitam desse apoio e não buscam o programa. Atualmente, devido ao contexto de isolamento social, o Paene se reúne com seus bolsistas e estudantes atendidos por meio de videoconferências e grupos no Whatsapp.
Escuta e mediação: o Neai
Outro mecanismo da universidade para tratar de questões educativas para estudantes com TEA é o Núcleo de Estudos e Ações Inclusivas, o Neai, vinculado ao Instituto de Ciências Humanas e da Informação e coordenado pela professora Carla Imaraya di Filippo. O objetivo é promover acessibilidade e permanência por meio de ações desenvolvidas em seus laboratórios. O núcleo existe desde2005.
No total, são cinco laboratórios, mas o que estabelece maior relação com estudantes com transtorno do espectro autista é o Grupo Acessibilidade (GA). O grupo promove escutas e orientações para acadêmicos, familiares, bolsistas do Paene e professores, realizando um trabalho em conjunto com o programa, além de prestar também serviços como orientações e palestras para a comunidade. É o principal braço do Neai no trabalho pela acessibilidade e permanência de estudantes do espectro autista na universidade.
Para Simone Braz, psicóloga do grupo, a função principal do GA é o acolhimento. “Hoje com os acadêmicos que têm TEA - todos que estão em contato com a gente - estão conseguindo desenvolver seu papel acadêmico, acompanhando suas disciplinas junto com os seus monitores”, relata.
Os professores e coordenadores de curso que possuem acadêmicos no espectro autista se mostram, segundo Simone, extremamente parceiros, apresentando suas dúvidas e buscando conhecer o que é o transtorno, para que, assim, possam se qualificar, seja no ambiente da sala ou em eventuais encontros com familiares. “Há uma preocupação em ver qual a melhor proposta para aquele acadêmico, no sentido de ele estar confortável e seguro”, pontua a psicóloga.
Assista, no vídeo a seguir o relato de duas experiências docentes relativas a estudantes no espectro autista, uma de sala de aula, e outra de um projeto.
O que isso significa na prática?
Em termos institucionais, a política empregada pela FURG promove a inclusão. Quando o estudante autista solicita acompanhamento, terá um bolsista oferecendo apoio e assim, formam-se vínculos que favorecem a socialização. “No momento em que ele consegue estabelecer o vínculo - e às vezes não é fácil, pois em diversos momentos precisamos trocar o bolsista até chegar no perfil com o qual o estudante consegue se adaptar melhor -, o impacto é muito positivo no seu desempenho universitário”, afirma Joice. O trabalho do Neai de mediação com professores, do mesmo modo, oferece condições de incentivo à socialização nos espaços de troca da sala de aula.
No momento atual, de isolamento social e de processos de educação remotos, novos desafios se colocam para toda a comunidade universitária, entre professores, técnicos e estudantes. No acompanhamento aos acadêmicos com TEA, também há novidades, como o acompanhamento por ferramentas tecnológicas, a distância. Os relatórios produzidos pelos bolsistas do Paene no acompanhamento durante o período da pandemia mostram um resultado otimista: o isolamento social e as aulas a distância não representaram impactos diretos na formação e aprendizado dos estudantes autistas. As dificuldades e as facilidades permanecem semelhantes às já registradas antes do período pandêmico.