CELEBRAÇÃO

Grupo de Estudos Feministas Lélia González é destaque no Julho das Pretas

Grupo desenvolve projetos de pesquisa, ensino e extensão, reunindo pesquisadoras e docentes do Brasil e da América Latina

Foto: Divulgação

O Julho das Pretas é resultado de uma agenda coletiva que se dá neste mês, na FURG, devido a uma série de datas significativas para o movimento de mulheres negras. Entre eles, estão o dia 25 de julho, com o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha e também o Dia de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, e, ainda, o aniversário de morte da intelectual e ativista Lélia González (1935-1994) no dia 10 de julho.

Na FURG, um dos movimentos mais atuantes reside no Grupo de Estudos Feministas Lélia Gonzalez/CNPq, fundado em setembro de 2020. A professora Amanda Motta Castro, do Programa de Pós-graduação em Educação da universidade, lembra que os principais motivos para a criação de mais um grupo, naquele momento, eram dois: fortalecer as mulheres que pesquisam feminismos e gênero, "sobretudo os transatlânticos", e unir forças para sobreviver à pandemia da Covid-19, "bem como ao 'desgoverno' de Jair Bolsonaro, que atacava com muita força nosso campo científico". Hoje, o grupo desenvolve projetos de pesquisa, ensino e extensão, reunindo pesquisadoras e docentes do Brasil e América Latina.

Entre esses projetos, está o livro "Educação Popular, mulheres e pedagogias periféricas", publicado em 2023. "O objetivo foi reunir as pesquisas realizadas durante o projeto de pesquisa que tem o mesmo nome, e que foi desenvolvido entre 2018 a 2023", explica a professora, responsável pela organização da obra. Assim, o livro discute as pedagogias periféricas criadas e desenvolvidas à margem da educação formal. Assentado no campo da educação popular e dos estudos feministas, tendo como marco teórico o materialismo histórico e priorizando o conhecimento que vem sendo produzido na América Latina, Caribe e nos feminismos transatlânticos, foi abordado um campo que produz um conhecimento por vezes marginal, periférico e clandestino, por não estar sendo feito dentro dos marcos da educação formal.

Para a professora Amanda, debater o feminismo negro no ambiente acadêmico é uma ferramenta de grande importância. "Como é de conhecimento público, as populações negras vivem diariamente com um alto nível de violência. Além disso, dados do IBGE e do Fórum de Segurança Pública revelam que as mulheres negras sofrem mais violência doméstica, têm mais chance de ser estupradas, e morrer pelo feminicídio. Além disso, somos as que ganham menos e estão nos piores postos de trabalho. Também somos a maioria das chefes de família e trabalhamos por longo período. Isso posto, é de suma importância que a universidade compreenda essa complexidade, ensine sobre isso para que possamos viver com mais dignidade, respeito e com justiça social", afirma ela.

Quem foi Lélia?
Nascida em Belo Horizonte/MG, Lélia González foi uma intelectual, autora, ativista, professora, filósofa e antropóloga brasileira. É referência nos estudos e debates de gênero, raça e classe no Brasil, América Latina e pelo mundo, sendo considerada uma das principais autoras do feminismo negro no país. Ela foi pioneira em pesquisas sobre cultura negra no Brasil e co-fundadora do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do Rio de Janeiro (IPCN-RJ) e do Movimento Negro Unificado (MNU).

Com importante presença tanto na academia quanto no mundo político, Lélia abordou em seus trabalhos perspectivas interseccionais quando o conceito em si ainda não havia sido criado, atuando contra o sexismo e o racismo na sociedade e cunhando conceitos como o de "amefricanidade" e "pretuguês".

Este ano marca os 30 anos de sua morte, mas seu legado permanece mais vivo do que nunca.