Museu Náutico recebe doação de canoa centenária

O Museu Náutico da Universidade do Rio Grande-FURG recebeu a doação de uma canoa de pranchão, com 101 anos de existência e 11,30 metros de comprimento. A canoa Maria Antonieta será restaurada pelo construtor naval e professor do Estaleiro Escola do CCMar, José Vernetti e sua equipe. A restauração terá orientação do diretor do Museu Náutico, do Museu Oceanográfico e do Centro de Convívio Meninos do Mar, Lauro Barcellos, e do oceanógrafo Rodrigo Torres que pesquisa a arqueologia naval da região.

O Museu Náutico e o CCMar se dedicam a fazer uma releitura do universo náutico rio-grandino, enfatizando as evoluções da relação do homem com mar e que seja capaz de emocionar as gerações futuras para o tema, explica Barcellos. Com o resgate do patrimônio cultural náutico da região, pretendemos contribuir para a educação e valorização da comunidade rio-grandina, em relação aos aspectos de sua história, cultura e identidade, diz.

A canoa foi adquirida de João Moreira Neto, de São José do Norte, pelo empresário porto alegrense e amigo do Museu Oceanográfico, Sérgio Alberto Neumann, que a doou para o museu.

Segundo Lauro Barcellos, trata-se de um testemunho precioso da nossa cultura náutica, pois somente aqui os construtores navais utilizaram este engenhoso método de construção. É um barco único no mundo, belo, marinheiro, muito resistente e que como outros tantos belos modelos de embarcações que já tivemos por aqui foram desaparecendo, ficando apenas raros registros fotográficos. Precisamos cuidar deste patrimônio náutico para que as futuras gerações entendam como chegamos até aqui e porque somos um povo do mar, finaliza Barcellos.

A canoa de pranchão

A canoa de pranchão é reconhecida como o primeiro modelo de embarcação tradicional propriamente desenvolvido no Rio Grande. Seu casco era construído com pranchões de cedro de 2,0 polegadas de espessura, falquejados a enxó e fixados uns aos outros com pregos e cavilhas sobre um esparso cavername com 3 a 5 cavernas mestras, construído preferencialmente de grápia ou angico.

Em seu velame, as canoas apresentavam três velas o foque, o traquete e a mezena - tingidas com a tintura roxa extraída da casca da capororoca um pequeno arbusto típico da região do estuário.

As velas conhecidas como "pano poveiro, são trapezoidais com verga, excelentes para nossos ventos. Foram os pescadores portugueses que as trouxeram da Póvoa de Varzim e as adaptaram para a realidade do estuário da Lagoa dos Patos e litoral adjacente.

Ainda, para vencer a correnteza da entrada da barra durante do regime de vazantes, nas atracações e deslocamentos pelos canais sem a presença de vento, os pescadores empregavam geralmente quatro remos.

Com capacidade de carga entre uma e dez toneladas, as canoas de pranchão foram utilizadas na pesca do estuário e área oceânica adjacente ao longo de todo o séc. XIX até meados do séc. XX, quando pouco a pouco foram substituídas por outros modelos de embarcações.

As canoas de pranchão incorporam, no feitio do casco e na armação de suas velas, elementos materiais e simbólicos próprios da cultura marítima regional, desenvolvidos pelos mestres construtores locais ao longo de sua história, em função das necessidades de utilização do meio estuarino. Restaurar estas canoas, e o modo como navegavam, é resgatar a própria memória do povo rio-grandino, um povo que faz sua história no mar, reforça Barcellos.

Créditos fotos: acervo Museu Náutico/FURG

Legenda foto1: Canoa de pranchão como era utilizada pelos portugueses em 1920

Legenda foto2: Canoa Maria Antonieta como estava sendo usada

Legenda foto3: Como a canoa ficará após a restauração

 

Sujeto: Arquivo